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segunda-feira, 18 de abril de 2016

Eu tenho um lado

Eu sempre soube que eu tinha um lado.

Minhas experiências de vida sempre tocaram num ponto: o sentimento de impotência diante da desigualdade e da injustiça social, e o aperto no coração por conta da dor dos excluídos. Isso me incomoda muito.

Nunca pensei em apenas “cuidar da vida” esquecendo-me dos outros. Eu sempre achei que deveria fazer algo. E não apenas orar ou torcer, mas fazer algo de concreto que pudesse significar, mesmo que em escala ínfima, um auxílio àqueles que vivem em condições de risco social. Saí às ruas da minha Salvador durante quase oito anos, todas as noites de terça-feira, para, juntamente com outros abnegados companheiros, alimentar e ajudar homens, mulheres e crianças de rua, que experimentavam a fome, o frio e o medo.

Sim, eu tenho um lado.

E isso gritou ainda mais alto dentro de mim nessa noite chuvosa de domingo, o 17/04/2016. Pois estávamos na rua lutando pela democracia e pela legalidade, e ao meu redor inúmeros homens e mulheres de rostos enrugados e mãos calejadas, gente simples, gente que sofre todas as mazelas sociais e econômicas desse país injusto, sob a chuva, enrolados em suas bandeiras vermelhas dos movimentos sociais, único apoio verdadeiro dessa gente.

Vê-los ali, ao meu lado, faces molhadas de suor e chuva, reivindicando, gritando, vibrando, torcendo e mostrando toda a força dessa gente de fibra, fez-me ter a certeza de que caminhar ao seu lado é o que de mais honroso e belo eu poderia fazer. Lutar por eles jamais, mas lutar com eles. Mostrar que gente como eu, da classe média, bem nutrida e estudada, pode e deve ser parceira nesse caminhar, porque, mesmo sem lutarmos a mesma luta da vida, sonhamos o mesmo sonho de igualdade, solidariedade, justiça e respeito.

Sim, eu tenho um lado.

E o meu lado é o lado do autêntico povo brasileiro e das suas lutas históricas por mais direitos e acesso a serviços públicos decentes. É o lado do trabalhador que acorda muito cedo para honrar seu mísero salário de explorado. É o lado dessa gente de corpos transformados pelo esforço de uma vida de muita dor e luta, mas que traz dentro de si um universo incomparável de amor e beleza.

Sim, eu tenho um lado.

E você, meu amigo, que não entende a razão de eu ter esse lado, só posso lamentar e torcer para que você também um dia acorde e se junte a nós nesse esforço de transformar nosso país num lugar de oportunidades iguais e justiça para todos. E porque essa luta não para, não cessa, também precisaremos de você. E nesse caminho, não se engane, haverá derrotas, percalços e tristezas, mas o horizonte que vislumbramos, os sonhos que temos, fazem-nos ter a certeza de que não poderíamos jamais ter outro lado.

Sim, eu tenho um lado. E esse é o meu lado!

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Salvador, plural e diversa

Hoje, eu e a Nega fizemos um percurso diferente na caminhada matinal. Em vez de irmos, como sempre fazemos, ao Iate e depois às Gordinhas da Ondina, fomos até o novo Rio Vermelho para ver as novidades da reforma e da requalificação.
Vista aérea do Rio Vermelho
Tudo muito bacana, tudo muito bonitinho, como sempre parece o início de qualquer intervenção urbanística. Mas não é sobre a beleza do tradicional bairro do Rio Vermelho que quero falar, e sim sobre os detalhes que percebi na caminhada.
A boa impressão: a reforma preservou as diversas esculturas do bairro que fazem referência ao universo do candomblé, como a tradicional "Iemanjá", festejada no bairro sempre no 2 de fevereiro, localizada bem no Largo da Mariquita; o "Cetro da Ancestralidade", do Mestre Didi, com seus 7 metros de altura, agora com mais destaque e beleza; e a "Odoyá", ou mais conhecida como "Espinha de Peixe", que é uma escultura criada pelo artista plástico Ray Vianna também em homenagem à Iemanjá. Ainda há outras referências interessantes desse mundo religioso afrobrasileiro no boêmio bairro soteropolitano.
A caminhada me remeteu à polêmica criada em torno da proposta de lei de uma vereadora evangélica fundamentalista, que pretendia instalar a escultura de uma Bíblia em pleno Dique do Tororó, para afrontar os orixás que embelezam o local. Afora a estupidez insensata da proposta do edil, aprovada na Câmara de Vereadores no dia 25 de novembro de 2015, o prefeito da cidade, conhecido pela alcunha de ACM Neto, manifestou-se contrário ao projeto, apesar de não o ter ainda vetado formalmente.
Mas há esperanças de que essa barbaridade cultural não seja levada adiante, por conta da postura plural que o prefeito tem tido em relação à diversidade religiosa e cultural que caracteriza a soterópolis baiana.
Cetro da Ancestralidade, no Rio Vermelho
E aqui o ponto positivo: sempre digo em conversas que as personagens de novelas e romances são caricaturas, pois há sempre os bons e os maus, e os bons jamais erram e os maus jamais fazem algo merecedor de elogios. Não, as pessoas no mundo real não são assim. Com isso em mente, apesar da minha postura de oposição política à gestão do prefeito, devo reconhecer seu acerto, não pelo embelezamento de partes turísticas da cidade, esquecendo-se dos subúrbios miseráveis, mas pela postura plural e promotora da diversidade.
A promoção da diversidade pôde também ser vista por nós na caminhada quando passamos por um órgão da prefeitura singular: o Centro de Referência LGBT, situado no Rio Vermelho. O órgão é gerido pela SEMUR (Secretaria Municipal da Reparação), que atua com programas para superação de diferenças de gênero e étnicas na cidade.
Gol do Netinho! Por preservar a cultura ancestral do povo africano na Bahia, lutando contra os fanáticos fundamentalistas evangélicos, e por legitimar as muitas diferenças humanas por meio de órgão específico de promoção da igualdade, porque somos todos humanos, independente de crença, etnia, sexo, orientação sexual, posição política e nacionalidade.
E Salvador, que sempre foi plural e diversa, não merece que sua liberdade seja solapada por intransigentes e intolerantes teocratas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

The world’s fastest growing cities

Donald Armbrecht
Nov 25, 2015
World Economic Forum

The TV tower at Alexanderplatz square during sunset in Berlin.
REUTERS/Fabrizio Bensch

By 2025, the Chinese city of Shenzhen will be home to more than 12 million people. In 1950, it was a fishing village with only 3,148 citizens.

In 1960, the only city in sub-Saharan Africa with a population of over 1 million people was Johannesburg. Ten years later, there were four. By 2010, that number had sky-rocketed to 33 cities.

Worldwide, urban areas are expanding. It is estimated that by 2050, 70% of the world’s population will be living in urban areas.

How fast are cities growing? That depends on the region in question. In Europe, 73% of people live in urban areas, South America 83% and North America 82%. That does not mean that the west has finished growing. Both London and New York are growing at a rate of 9 and 10 people per hour. London earlier this year reached a record 8.6 million inhabitants.

Neither Africa nor Asia have passed the 50% mark yet, but that is quickly changing. India and China, two of the world’s most populous nations, have been undergoing rapid economic development. Delhi is at 79 people per hour, Mumbai at 51. In China, Shanghai welcomes 51 new citizens an hour.

There is a large incentive for nations to urbanise. In 2012, 33% of the world’s population lived in large cities, accounting for 55% of the world’s economic output.

In the infographic below, the Guardian charts some of the fastest growing cities in the world. The chart shows the number of people added to a city’s population every hour.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Viva Paulo Freire!


Relato-homenagem: viva Paulo Freire!

Sim, sou um professor. Porque professor não se está ou se exerce, é-se. Fala-se de imanência e não de contingência. Pode-se deixar de lecionar, mas não de ser um professor. Ensinei por vários anos. Ensinei algumas disciplinas de filosofia e outras de engenharia eletrônica. Gosto muito de ambas. Mas a filosofia é minha companheira de viagem, de solidão, de reflexão, enfim, de vida. Escolhi essa companheira para parceira eterna, e que minha adorada Nega não fique com ciúmes, pois nossa relação íntima é meramente cognitiva, apaixonada, não excludente, partilhada, mesmo que sensual e amorosa. Amar a filosofia, com seus fantásticos percursos lógicos e seus escandalosos questionamentos, fez-me um cético, crítico e iconoclasta. Acima de tudo um iconoclasta! Mas dentre os ídolos que me ajudaram a matar ídolos, encontrei um, durante a travessia ainda incompleta, que nutro especial admiração: Paulo Freire.


Nas aulas de filosofia para educadores, uma das minhas melhores experiências docentes, trazia Freire para dialogar conosco e nos fazer melhor refletir sobre o processo ensinar-aprender. Aprendia muito nas aulas sobre o maior pensador brasileiro. Tantas e tantas vezes fui capaz de mudar minha postura docente, destruir meus pensamentos cristalizados e construir novas hipóteses para serem discutidas e testadas. Com ele e com os alunos aprendi um pouco mais sobre opressão, autonomia e liberdade.

Sim, não exerço mais a docência. Os compromissos materiais da vida me impuseram escolher entre ter tranquilidade econômica, para mim e minha família, e viver a paixão desenfreada do debate polêmico, do palco de reflexão conjunta e da escrita mordaz e irônica. Eu sucumbi. E talvez, por isso, não seja mais um professor. Um professor nesse país, infelizmente, não tem valor social e não consegue viver financeiramente tranquilo. Falta-lhe paz. E isso não é bom.

Hoje, a sala de aula jaz nalgum espaço obnubilado da minha memória que, vez por outra, transborda em lembranças que me fazem sorrir e pegar um bom livro de leitura filosófica. E lembrar de Paulo Freire. E lembrar e agradecer aos meus inúmeros alunos que me fizeram aprender muito nos anos de ensino.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Mamute 2.0

Expedição ártica encontra restos clonáveis do animal extinto
http://br.sputniknews.com/ciencia_tecnologia/20151008/2368062/expedicao-artica-encontra-restos-de-mamute-clonaveis.html
Sputnik Brasil
Publicado em 8 de outubro de 2015

Uma expedição científica às Ilhas Lyakhovsky, na costa da Sibéria, descobriu restos clonáveis de pele e presas de marfim de um mamute lanoso – última espécie de mamute a se adaptar às regiões árticas.

A expedição exploratória internacional, liderada por cientistas da Universidade Federal do Nordeste da Rússia (UFN), em Yakutsk, foi realizada em duas etapas entre os dias 11 de agosto e 29 de setembro, segundo explicou Semyon Grigoriev, líder da equipe de exploradores e diretor do Museu Lazarev do Mamute, em uma conferência de imprensa na quarta-feira (7).

De acordo com o cientista, a equipe encontrou seis espécimes de fósseis de mamute lanoso adequados para a extração de DNA.

© Wikimedia Commons
Mapa das Ilhas Lyakhovsky
"As Ilhas Lyakhovsky são consideradas o continente dos mamutes", disse Grigoriev, explicando a escolha do local para as explorações.

"Para começar, ao lado de arqueólogos nós realizamos uma escavação na localização mais ao norte onde o homem antigo viveu, não muito longe da aldeia de Kazachye onde encontramos uma enorme quantidade de ossos de mamute, e também de ferramentas antigas", relatou o cientista russo.

"Então, depois de esperar um longo tempo pelas condições climáticas certas, seguimos para o principal alvo da nossa expedição, a Grande Ilha Lyakhovsky, onde encontramos uma grande quantidade de restos únicos", continuou Grigoriev, citando amostras de pele e dentes da espécie extinta.


"A pele é o mais interessante para nós, para o nosso projeto ‘Renascimento do Mamute’, porque os nossos colegas coreanos consideram a pele como o melhor material para uma tentativa de clonagem através da extração de células viáveis", explicou o cientista.

A expedição da UFN, batizada de “Ecúmeno Nordeste”, envolveu 16 pesquisadores de seis países e foi possível graças a uma doação de dois milhões de rublos oferecida pela Sociedade Geográfica Russa.

"Consideramos a expedição um sucesso; afinal, a partir de aparentes pequenas expedições, grandes descobertas científicas podem ser feitas", concluiu Grigorev, cuja equipe está agora se unindo a pesquisadores coreanos para analisar os restos do mamute em busca de células primárias bem conservadas, viáveis para a clonagem.

Um acordo de cooperação foi assinado em 201 entre a administração do Museu Lazarev do Mamute, sob a tutela do Instituto da Ecologia Aplicada do Norte, da UFN, e a fundação sul-coreana Soam, de pesquisa biotecnológica, dentro do projeto "Renascimento do Mamute".

O animal se tornou uma espécie de símbolo nacional da Rússia, devido à grande quantidade de fósseis encontrada no subsolo do país. Os cientistas já elaboraram o mapa genético da espécie e esperam poder criar um cromossomo vivo do mamífero extinto depois de algumas modificações com base no DNA do elefante asiático. Se bem sucedido, o resultado da experiência poderia ser implantado no óvulo de uma elefante fêmea para ser fecundado.

A ideia soa como ficção para muita gente, inclusive para grande parte da comunidade científica, que se mantém cética quanto à capacidade tecnológica de que dispomos atualmente para bancar uma experiência desse porte. Apesar de tudo, se os entusiastas da clonagem na UFN estiverem certos, imagine o quadro: daqui a alguns anos ou décadas, talvez, poderíamos ver manadas de mamutes desbravando novamente a Sibéria.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Diálogos palestinos – II

Ele:
- Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. (Mt 5,5)
Um seguidor resolveu perguntar:
- Então devemos sempre ser mansos e pacíficos?
Ele:
- Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. (Mt 5,44)
Ainda curioso o seguidor:
- E se for pelo inimigo provocado, devo ser ainda manso e pacífico?
Ele:
- Ouvistes que foi dito: olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. (Mt 5,38-39)
E, saindo dali, foram ao templo. Então:
E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um açoite de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: tirai daqui estas coisas. (Jo 2,14-16)
Um seguidor assustado questionou:
- Mas acabaste de ensinar sobre a mansidão e a paz, como entras assim no templo chicoteando pessoas e derrubando seus pertences?
Ele:
- Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. (Mt 12,34)
Um seguidor:
- Mas, cara, não era para dar a outra face e jamais reagir ao mal?
Ele:
- Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. (Mt 5,25)
Um seguidor:
- Mas tu fizeste isso?
Ele:
- Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5,48)
Um seguidor:
- Ah, vai à merda...

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A guerra religiosa não declarada no Brasil

Onde isso parará?

Os evangélicos estão conseguindo transformar esse País num lugar de ódio, medo, intolerância e discriminação.

O vídeo apresentado no endereço abaixo é uma reportagem do SBT sobre a agressão sofrida por uma menina de 11 anos, executada por homens evangélicos, após sua saída de um culto do candomblé.

E se alguém reagisse e espancasse os crentes agressores? Ah, certamente algum deputado da famigerada bancada evangélica ou um pa$tor bandido qualquer (desses que pregam ódio em canais de TV) sairia a gritar: cristofobia!

O Brasil está em guerra. E é uma guerra entre a razão, o amor e a tolerância democrática contra o ódio, o medo e o fundamentalismo religioso medieval.

E de que lado você está?

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/53577/RJ:-Homens-agridem-garota-que-voltava-do-culto-de-candomble.html#.VYLIK_lVhBc

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Luta de classes, e isso existe?

O embate último da eleição brasileira para a presidência da República expôs didaticamente um fenômeno há muito estudado pelas ciências políticas e sociais: a luta de classes.

“Luta de classes, e isso existe? Você ainda se prende a esses conceitos antiquados e sem sentido?”

Pois é, tal qual ocorre com os conceitos de esquerda e direita políticas, é assim que muitos reagem à ideia da luta de classes como explicação dos fatos ocorridos nas sociedades hodiernas, argumentando que tais conceitos ficaram aprisionados no passado e seriam incapazes de explicar o complexo e multifacetado funcionamento social em que vivemos. Pior: há aqueles que simplesmente reduzem a explicação a um rótulo, chamando de “comunistas” os que dela lançam mão.

Entretanto, quando se estuda o fenômeno social a partir dos dados produzidos por determinada sociedade, papel inequívoco das ciências sociais, percebe-se quão adequada é a teoria marxista para tratar e explicar sua dinâmica. E aqui se faz necessária uma brevíssima digressão: há diferença crucial entre os estudos históricos, sociológicos e econômicos de Marx, o marxismo, e sua proposta ideológica de ação social que visava transformar a sociedade em que vivia, o comunismo. Ou, de forma mais clara, quando Marx dizia que preciso seria não apenas compreender o mundo onde vivemos, mas transformá-lo, percebe-se a diferença das propostas: numa, a reflexão, o entendimento, a captura da dinâmica da realidade social a partir de suas estruturas fundantes; noutra, a intervenção, a ação social baseada na compreensão do funcionamento social.

A luta de classes é um conceito que pertence ao que aqui nomeio de marxismo, isto é, uma das estruturas fundamentais para se entender o movimento histórico das sociedades humanas. De todas as sociedades humanas. Com essa estrutura conceitual consegue-se compreender, por exemplo, as grandes mudanças históricas que definiram eras hoje conhecidas como Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea, haja vista serem essas grandes transformações resultados do embate entre as classes sociais presentes em cada um desses momentos históricos.

Sem o uso desse conceito basilar, proposto por Marx e Engels a partir da aplicação da dialética hegeliana ao funcionamento social, a explicação da história humana ficaria sem um entendimento claro de suas fases e rupturas. Seria como tentar explicar a queda dos corpos sem o conceito de gravidade proposto por Newton, ou as telecomunicações sem o conceito de campo proposto por Faraday.

Na eleição presidencial brasileira de 2014, a luta entre as classes sociais do capitalismo ficou bastante evidenciada: de um lado assalariados, pobres, minorias reprimidas, assistidos sociais, dentre outros que vendem sua mão de obra para a consecução da mais-valia; do outro, os detentores do capital representados por empresários, ruralistas, banqueiros, especuladores, dentre outros que se sustentam por meio do lucro. E entre eles, u’a massa de indivíduos conduzida por uma imprensa capitalista e interessada diretamente no resultado eleitoral. Não fosse isso, a eleição seria vencida pela esquerda ainda no primeiro turno. Esse contingente de votos é representado por outra categoria marxista fundamental no entendimento da sociedade: a alienação. E aqui não se trata de alienação no sentido dado pelo senso comum, mas como conceito marxista de alienação, carregado de entendimento político e econômico.

Assim se compreende, por exemplo, o ódio rancoroso demonstrado pela imprensa e pelos defensores do capital, mesmo que assalariados (explicação dada pela alienação), durante e após o processo eleitoral. Esse ódio atingiu nordestinos, trabalhadores pobres, assistidos e outras minorias, por conta de sua opção em defender seus legítimos interesses sociais, políticos e econômicos. Uma boa ilustração dessa escolha está na notícia da maior criação de empregos na região nordestina do Brasil e na maior participação percentual da renda oriunda do trabalho na composição do PIB brasileiro (saiu de 39% em 2004 para 45% em 2012). Ou seja, a classe trabalhadora percebe o aumento qualificado de sua participação na dinâmica econômica da sociedade brasileira e vota conscientemente na manutenção dessa política.
 
Do outro lado, afora a participação alienada de assalariados, o que se viu foi a exposição da repulsa pelo compartilhamento de espaços antes restritos aos detentores do capital, como o acesso a aeroportos e universidades, e o rancor pelo rompimento das relações de exploração quase servil do trabalhador mais susceptível, como empregadas domésticas e prestadores de serviços pouco qualificados.

As duas candidaturas que lograram alcançar o segundo turno das eleições representaram esses dois projetos, essas duas classes sociais, essas duas estruturas fundantes da sociedade humana: o capital e o trabalho. De um lado, a continuidade da criação de empregos e da valorização do trabalho na participação da renda nacional; do outro, a preparação da economia para maior exploração do trabalho e lucro do capital, representados pelas ameaças de desvalorização do salário mínimo, de aumento do desemprego para garantir o rentismo e de flexibilização das leis trabalhistas para facilitar a obtenção de lucro à custa da exploração da mais-valia.

Sim, é a luta de classes. E ela existe.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Coração Valente na Bahia

O Brasil é #Dilma13!
Ave Bahia, cheia de graça!
Linda interpretação da música que representa a mudança real.
E na Bahia ficou ainda mais linda!

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O furacão Marina Silva

Impressiona-me a capacidade de desagregação partidária de Marina Silva, deixada como legado aos partidos que a abrigaram. Em 2010, sob a bandeira do PV, após a disputa presidencial, não restou pedra sobre pedra, e o PV até hoje amarga brigas internas que o fizeram retornar à condição de nanico político. Os verdes históricos, como Fernando Gabeira, sequer querem mais saber de disputar cargos eletivos por um partido que se queria sério.

Segue ilustração do problema verde:

Agora, com o PSB, a história se repete. Aquele que já foi um dia um partido de lutas sociais, de bandeiras políticas arrojadas, após a tempestade tropical Marina, tornou-se um arremedo de partido, que se entregou sofregamente ao canto conservador da sereia, negando sua história e envergonhando seus ativistas autênticos. Não é por menos que nomes consagrados do PSB, como a senadora Lídice da Mata (BA), a deputada federal Luíza Erundina (SP) e o presidente do partido Roberto Amaral, indignaram-se com essa postura subserviente do PSB. Até a vereadora do Recife Marília Arraes, prima do ex-presidenciável Eduardo Campos e neta de Miguel Arraes, declarou-se indignada com o apoio à direita dado nacionalmente pelo PSB.

A história é cruel: ou se aprende com ela, ou repetem-se os erros do passado. E Marina conseguiu dividir mais um partido, além de afundar sua reputação de partido de esquerda. Ou alguém duvida do destino do PSB como um PV de 2014?

Ilustrações sobre a derrocada do PSB:

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Democracia, Nordeste e tolerância

Toda eleição presidencial é a mesma coisa: o Nordeste brasileiro não vota como querem os paulistas e, pronto, lá vem uma enxurrada de ofensas racistas e xenófobas. Afora o fato de que a democracia pressupõe exatamente esse combate de ideias, prevalecendo aquela que conseguir mais adeptos, a expressão de ódio e preconceito que se vê nas redes sociais esconde algo mais grave.

As manifestações raivosas que se fizeram representar após o resultado político de ontem trazem uma proposta clara: um golpe à democracia. A não aceitação dum resultado democrático, seja ele qual for, revela um desejo mórbido de se impor pela força, de calar o diferente, de não permitir a expressão legítima do discurso contrário. Esses doentes políticos, que foram vistos nas manifestações de junho de 2013 portando cartazes exaltando a ditadura e a censura, são um risco à democracia.

Lembro-me de Locke, em sua Carta sobre a tolerância, afirmando que a tolerância é uma virtude a ser cultivada, mas que os intolerantes não devem ser tolerados numa sociedade saudável, sob o risco de ruir os princípios do convívio social e democrático. Por conta dessa ideia é que as sociedades civilizadas impõem sanções penais aos preconceituosos e aos propagadores do discurso do ódio. É uma forma de extirpar aqueles que trazem riscos aos princípios mínimos de civilidade e cidadania.

Ou seja, não é democrático tolerar o discurso racista, xenófobo ou homofóbico. Isso deve ser tratado como crime e um golpe mortal à democracia e aos direitos de cidadania. Deve-se tolerar e discutir todo tipo de ideia social, política, econômica ou filosófica, menos aquelas que usurpam, mesmo que implicitamente, o direito alheio de expressão legítima de sua cidadania.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

13 anos de luz

Hoje faz 13 anos que meia dúzia de jovens (alguns nem tanto...) abnegados e cheios de ideais foram pela primeira vez, numa noite chuvosa de terça-feira, às ruas de Salvador para distribuir alimentos a moradores de rua: era 28 de agosto de 2001. Com o passar dos anos, esse grupo cresceu e muitos outros se incorporaram àquela nobre tarefa de alimentar desamparados, que se estendeu por todas as noites das terças-feiras por longos 8 anos. Foram momentos de muito aprendizado e crescimento. De muita doação pessoal de todos, de muito trabalho e de muito amor no que se fazia. Entregávamos na rua sopa, mingau, café, pão e água. E em muitos momentos acrescemos roupas, cobertores e atendimentos médico-odontológicos, propiciados pelos amigos da área de saúde.

E a caravana de carros saía na noite de terça-feira pelas ruas mal iluminadas de Salvador, por bairros e regiões algumas vezes perigosas, mas sempre confiante naquilo que se propunha a realizar. Sim, corremos alguns perigos, mas durante esses 8 anos nada aconteceu com qualquer membro da caravana.

A quantidade de material distribuído pelas ruas soteropolitanas cresceu e precisamos encontrar um local para organizar as tarefas e preparar os alimentos. Assim, diante da necessidade e com a colaboração de todos, conseguimos um local para o trabalho.

Com o conhecimento que passamos a ter das pessoas de rua, mantivemos contatos com suas famílias e estendemos o trabalho social ainda mais, entregando cestas básicas mensais a todas as famílias que conhecemos. Trabalho que era feito num sábado por mês, pela manhã, na sede do grupo, que incluía palestras de apoio social sobre saúde, higiene, direitos etc.

Os anos se passaram, e a dinâmica da vida nos levou para lugares e tarefas distintas. É o processo normal da vida social. O trabalho, em algum momento, teve de acabar. Conseguimos ajudar muita gente. Mas nos ajudamos ainda mais, pois todos saímos dessa etapa de nossas vidas um pouco mais humildes, mais autênticos e mais tolerantes com o outro.

Nesse dia de recordações doces que me vêm à memória, quero agradecer a todos os amigos que cultivei durante esse trabalho social: vocês, irmãos, são também responsáveis pelo que hoje sou. Aos atendidos, agradeço profundamente a oportunidade que me deram de me conhecer melhor e de ser também uma pessoa um pouco melhor, pois suas dor e dificuldade me fizeram compreender mais a realidade em que vivemos.

Hoje eu queria, em agradecimento, comemorar com todos. Mas aqui, na solidão do Planalto Central, eu apenas lembro e fico a rir sozinho daquelas terças-feiras maravilhosas!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Por que #SOUDILMA - 3

Até entendo, mas não aceito, quando ouço ou leio um membro das classes mais abastadas se queixando dos governos populares do PT: é apenas rancor e sensação de perda de privilégios. Mas nunca entenderei as críticas que partem das camadas mais populares e trabalhadoras às políticas de inserção social e distribuição de renda promovidas pelos governos de esquerda. Aliás, talvez até entenda...

Os números são sempre cruéis em relação aos anos FHC (PSDB), como mostra o gráfico apresentado. FHC, e seu governo de elite, aumentou o número de pessoas em estado de pobreza em 4%, enquanto o governo Lula (PT) reduziu esse número em 36%! A comparação entre os governos de esquerda e de direita é uma covardia!

O mais surpreendente é ver pessoas, que se imaginariam racionais, babando seu ódio contra o PT e contra as políticas de redução de pobreza, por conta da corrupção, como se ela fosse uma exclusividade de um partido ou de um grupo político. Em vez de lutarem contra a corrupção em todos os níveis de governo (federal, estadual e municipal), preferem jogar fora as conquistas desses 12 anos de políticas sociais por conta da sua “raivinha” pouco elaborada cognitivamente...


terça-feira, 6 de maio de 2014

Chiquismo: a doença infantil do espiritismo

Por Randolfo*

O título é uma paródia a uma grande obra de crítica ao esquerdismo em detrimento do socialismo. E também nem guarda real proporção, pois o espiritismo não gera nenhuma doença - os espiritualistas que se dizem espíritas é que fazem isso.

Temos observado a derivação do movimento dito "espírita" no Brasil na direção contrária às recomendações da codificação e mesmo às particulares de Kardec. O espiritismo no Brasil não se orienta, na prática, pelas obras codificadoras e sim pelas obras de um único autor - Chico Xavier.

Infelizmente, esse autor não prezou pelos aspectos científicos ou filosóficos do espiritismo, preferindo enveredar por um caminho roustanguista fácil, o do religiosismo místico. E como a FEB privilegiou esse autor que tão bem serviu aos seus propósitos (vide Conscientização espirita, de Gélio Lacerda).


Nós temos um companheiro que costuma dizer que o problema não é o que se lê e sim o que se faz com o que se lê. A derivação religiosista, visando implementar uma verdadeira instituição religiosa no meio espírita, é mais fácil de ser seguida e compreendida, pois não requer maiores reflexões, tanto como também não estimula investigações, aferições. Mas, a culpa é de quem lê e não compara com a codificação, pois a codificação tem "linguagem difícil", ou é "muito complicada", nos dizeres de muitos que se dizem "espíritas".

Foi instituída, então, uma ditadura no meio espírita - o "chiquismo". É uma ditadura, pois foi massificada e assimilada pela maioria e absolutamente quase não há fóruns de debate sobre ela. Nota-se: em lugar NENHUM, seja congresso, seminário, simpósio que seja "espírita", abre-se espaço para se questionar NENHUMA obra de Chico Xavier. Muito pelo contrário - quem contesta esse autor é segregado, atacado e humilhado.

Não há como deixar de avaliar que o chiquismo possui instrumentos próprios para sua manutenção: tem base literária, coerência com seus princípios místico-religiosos e uma vasta rede de instituições, tanto como editoras e mídia que o suporta.

Conforme verificamos que o eixo de compreensão do espiritismo, segundo esse movimento, move-se exclusivamente na direção das obras de Chico Xavier e considerando o detrimento em que passa a se situar a codificação espírita, tanto quanto as claríssimas contradições existentes, eis que temos, agora, de fato, a instituição de uma religião. Mas, não se chama espiritismo, pois não se torna uma religião o que não se é.

Inaugura-se no Brasil o "chiquismo", uma religião sincrética, que por mera questão de marketing intelectual assume as feições do espiritismo, sem o ser.

Nota-se que mesmo os autores que seguem essa tendência são sempre ofuscados pela pressão desse grupo, que substituiu Roustaing (que a maioria estranhamente alega nem conhecer...) por Chico Xavier. Kardec ficou absolutamente em segundo plano.

Nota-se como no meio espírita se homenageia o citado autor, como se lhe enchem de julgamentos morais, enquanto o codificador do espiritismo jaz esquecido. Nunca é citado como exemplo moral (alguém mais notou isso?), nunca é citado como exemplo intelectual (também se notou isso?). Aliás, Kardec nunca é citado como modelo de espírita. Para os chiquistas, modelo de espírita é quem contradisse o espiritismo: Chico Xavier.

Nós, defensores do espiritismo, precisamos amadurecer e aceitar os fatos: há uma religião, ela é majoritária e o culto à personalidade é preponderante. E não se pode ignorar a comparação com os iniciantes anos do cristianismo: os ensinamentos de Jesus foram logo deturpados e ele, que não fundou religião nenhuma, viu seu nome ser utilizado para desvios absolutos, que culminaram até na perda de vidas.

E hoje Kardec é utilizado apenas de fachada para agredir-se justamente quem defende seus ideais...

A realidade impõe aos espíritas (uma classe bem mais minoritária do que imaginamos) não o combate a essa seita chiquista, mas o esclarecimento ao nosso povo.

A função do espiritismo é o esclarecimento. Nosso dever é prosseguir nisso. E como se faz? Divulgando a codificação e fazendo principalmente o que Chico Xavier nunca fez, nem tampouco seus defensores: BUSCAR A VERDADE.

Enquanto assistimos a essa nova seita afirmar que os dizeres desse autor são verdades absolutas, não assistimos à busca pela verdade, mas seremos cúmplices se ficarmos parados.

A luta pelo propriedade da expressão "espiritismo" não existe e nem pode existir. A luta pela verdade, sempre.

Queremos a verdade, queremos as obras mediúnicas submetidas à aferição, queremos a investigação dos fenômenos espirituais, queremos fazer novas perguntas para obtermos novas e verdadeiras respostas dos espíritos superiores. Queremos o espiritismo nos ESCLARECENDO e isso somente se dá por meio de informações fidedignas. O fanatismo em prol de uma única pessoa, um único espirito, um único autor, continua possuindo as mesmas características em todas as eras e momentos históricos. Quem seguia Hitler, por exemplo, o considerava infalível...

O chiquismo não precisa ser combatido. É mais uma religião e nada mais, perdida no meio de tantas outras - e a mais inexpressiva, pelo número de pessoas que a adotam. Enquanto evangélicos, que eclodiram somente a partir dos anos 60 no Brasil, hoje são metade da população do país, o chiquismo, essa doença infantil fruto da idolatria, que conta com a mesma idade, possui pífio 1% de nossa população. O chiquismo, então, só possui importância para os chiquistas - não para a imensa maioria do povo brasileiro.

Urge que façamos diferente e levemos o espiritismo verdadeiro a esse povo, carente de esclarecimento e do consolo que só vem pela verdade.

*Randolfo é moderador da comunidade "Eu sou Espírita - Espiritismo" do Orkut.

domingo, 4 de maio de 2014

Por que #SOUDILMA

Desde os meus primeiros votos, lá nos distantes anos 80, sempre votei nas esquerdas, porque para mim a direita sempre representou o opróbrio social, o tipo de política mais abjeta que se poderia imaginar, pois jamais pensavam na classe trabalhadora e apenas defendiam os interesses do capital. Assim, feliz e confiante, sempre fiz campanha aberta para a eleição do Lula, e cantando “Lulalá” conseguimos finalmente elegê-lo em 2002. Mas após o primeiro mandato do presidente Lula, envergonhei-me com sua política de concessões aos maiores bandidos da república nacional, tudo em nome da "governabilidade" e em busca de apoio no Congresso Nacional.

Já na eleição seguinte, 2006, não mais votei no PT, e guinei-me ainda mais à esquerda, optando sempre pelos nanicos radicais. E sempre anulando meu voto nos segundos turnos. E assim tenho votado desde então, sejam em eleições municipais, estaduais ou federais. Não votei no PT no segundo mandato de Lula e nem votei na Dilma. Considerava-me traído pelo PT. Afinal, onde foram parar todos aqueles ideais de mudança ética e de postura política responsável? Eu sei: nas mãos da quadrilha do PMDB (eterno governante real desse país desde a época do Sarney), nas mãos de pa$tore$ evangélico$ estelionatários enganadores de pessoas simples, nas mãos de ruralistas inescrupulosos que usam trabalho escravo e degradam impiedosamente o meio ambiente...

Tudo isso é verdade e vergonhoso! Seria necessário mudar, elegendo-se novos partidos de esquerda para governar o Brasil e dar continuidade ao sonho um dia embalado pelo PT. Quem sabe o PSOL, ou o PSTU, ou o PCB. Tanto faria, pois todos defendem os ideais de igualdade e tolerância na sociedade, levantando a bandeira do trabalhador. Se fariam concessões, se eleitos, não se sabe, mas se fizessem, buscar-se-iam outras legendas, sempre tentando levar a política brasileira a um patamar de decência e visões social e ambiental.

Mas há um perigo muito maior: o do retrocesso! E isso é inadmissível! Não se poderia jamais pensar em retroceder uma vírgula nas conquistas sociais e nos investimentos em reformas básicas, que é o que ocorreria numa possível vitória da inescrupulosa direita fascista brasileira. Ou seja, uma tragédia! Ao se comparar os 8 anos de governo do PSDB, em parceria com o DEM e o PMDB, com os anos sob o governo do PT, as diferenças são continentais, a distância entre as políticas sociais promovidas por um governo e por outro é abismal. Na imagem, apresento apenas um exemplo: investimentos em saneamento básico. Outras áreas, como mobilidade urbana (principalmente transporte público coletivo) e habitação popular, apresentam as mesmas características: a direita nada fez. Nada! Enquanto a política petista, à revelia de todos os seus problemas morais, foi capaz de mudar a cara desse país. E isso não é discurso político, são números que só um parvo condicionado seria capaz de contestar.


E o governo Dilma, atendo-me apenas aos números, foi ainda melhor. Os 4 anos de seu governo representam os maiores investimentos em serviços públicos já feitos por qualquer outro governo na história desse país (aproveito para parafrasear o ex-presidente Lula). Não há registros na história de qualquer outra coisa similar já feita. E desafio qualquer um a apresentar números tão contundentes como o do governo Dilma.

Ah, dirão alguns, e a corrupção? Bem, ela, infelizmente, é endêmica nesse país, e ocorre principalmente no nível menos vigiado: o municipal. Ali estão os maiores ralos de dinheiro público da nação brasileira. Mas por ser endêmica, é estranho, muito estranho, que só se fale da corrupção petista, esquecendo-se de toda a patifaria vergonhosa ocorrida nesse país para a aprovação da reeleição durante os anos FHC, ou do escandaloso processo de privatização de diversos setores econômicos, conhecido como “privataria tucana”, ou ainda dos muitos escândalos sufocados da época da ignominiosa ditadura militar (ou já se esqueceram dos casos Halles, Econômico, Eletrobrás, Lutfalla, Delfin, Capemi etc.?). Não, não se busca justificar a bandidagem petista com bandidos de outros tons políticos. Todos são bandidos, e essa é a grande diferença, e não apenas o PT. Assim, justificar o ódio irracional nutrido contra o PT por conta da corrupção é apenas exibir com detalhes as dificuldades cognitivas e informativas daqueles que optaram por esse caminho do rancor político.

Exijamos sim a decência política sempre! Precisamos de representantes que honrem esse povo trabalhador. E quem não o fizer, que vá para a cadeia, seja de qual partido for. E não apenas de um partido, como hoje ocorre nesse país...

Quais as minhas opções reais? Continuar com os investimentos sociais promovidos pela Dilma, principalmente em educação, saúde e infraestrutura urbana, ou virar à direita para acabar com esses investimentos que beneficiam principalmente os socialmente vulneráveis, para retroceder em direitos trabalhistas extinguindo auxílio maternidade e férias remuneradas, como pretende o PSDB e seu candidato do famoso helicóptero, para entregar de vez esse país aos bandidos das igreja$ evangélica$, como pretende a companheira de chapa da candidatura do PSB. É, acho que a opção é clara.

Não, não cairei no discurso pueril e inconsequente de ódio ao PT, como alguns mais incautos fazem ao ouvir o canto da sereia emitido por uma imprensa cooptada. Serei mais responsável com meu voto dessa vez e escolherei aquilo que realmente poderá ser o melhor para o país.

Por isso, declaro: dessa vez, #SOUDILMA

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Diálogos palestinos - I

Ele:
- Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de deus. (Mt 5,9)
Um seguidor:
- Puxa, que bacana...
Ele:
- Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a. (Lc 22,36)
Um seguidor:
- Não entendi, se é para pacificar, para que comprar uma espada?
Ele:
- Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. (Mt 12,34)
Um seguidor:
- Calma, tio, é só uma perguntinha! Eu só não tinha entendido. Aliás, continuo sem entender...
Seguem-se vários eventos até sua prisão.
Um seguidor:
Estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. (Mt 26,51)
Ele:
- Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. (Mt 26,52)
Um seguidor:
- Porra, cara, decida o que tu queres! Para que comprei então essa espada? Para brincar de soldadinho?
Ele:
- Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. (Mt 10,34)
Um seguidor:
- Ah, vai à merda...

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Spiritualism in Brazil: alive and kicking

O texto completo está traduzido logo abaixo
http://www.csicop.org/specialarticles/show/spiritualism_in_brazil_alive_and_kicking/
Por Kentaro Mori
June 2, 2010

In continental Europe and particularly in Brazil, a branch of Spiritualism called Spiritism is developing and evolving into a new religion.

We have all seen old Victorian illustrations of ghosts as white sheets of cloth and poorly faked photos of spirits created by double exposure, mainly resulting from the Spiritualist movement in Britain and the United States. The movement saw its peak at the end of the nineteenth century, and it’s mostly recognized as a fad today, almost a century later.

In some other countries, however, especially in continental Europe and particularly in Brazil, a branch of Spiritualism called Spiritism is still very relevant and evolving, making it a fascinating example of the development of a new religion. Followers will be quick to emphasize the distinction between the more widely known Spiritualism and Spiritism, which was founded by a Frenchman named Hypolite Rivail (1804–1869) under the pseudonym “Allan Kardec.” This fad, or fallacy, is being promoted in the name of science.

Chico Xavier

According to the Brazilian Institute for Geography and Statistics (IBGE), which conducts the official census, Brazil has the largest number of Spiritists in the world: over 2.3 million followers, around 1.3 percent of the total population and the third largest religious group, behind Catholics and Evangelicals[1].

All three groups are Christian; the Brazilian Spiritists give special relevance to “The Gospel According to Spiritism.” The most important leader of this movement in Brazil, Francisco “Chico” Xavier (1910–2002), is our main focus of interest here because he epitomizes Brazilian Spiritism.

Chico Xavier is said to have been a medium. His main form of mediumship, however, was “psychography,” that is automatic writing by which he claimed to contact the dead in the form of letters from the deceased and also new books by deceased famous authors.

By selling these “psychographed” books, of which Xavier is said to have authored nearly 400, the movement has been able to flourish and to promote charity works in a self-reinforcing loop where each chain reinforces the other with Xavier at the top. He was clearly not a “Sexy Sadie,” however; even in life Xavier, who lived modestly and never married, was already worshipped as a kind of ascetic saint. There is no evidence that the image of him upheld by his followers is not true. Nearly a decade after his death, and in the centenary of his birth, his life is being dramatized and promoted in major feature movies,[2] and it’s almost unthinkable to question Xavier’s public persona.

But a critical analysis of Chico Xavier’s paranormal claims quickly reveals their utmost frailty. I was myself surprised. Until I got a better look, I had always assumed Xavier’s claims had a kernel of truth. If they were not authentic paranormal phenomena, I thought they would at least prove unsolved and intriguing. On the contrary, that turned out not to be the case.

“Odorization”

A close friend of mine, Vitor Moura Visoni[3], managed to get one of Xavier’s biggest and closest associates, Waldo Vieira, to clearly state that Xavier promoted hoaxes. Vieira should know because he was there.

“Workers from the Spiritist Center went to the line [of followers] to get details from the deceased. Or they used stories told by relatives in the letters where they asked for a meeting. The messages from Chico had this information,” Vieira revealed. That would explain his “psychographed” letters with details that “only the deceased had known.” More than cold reading, this was just plain hoaxing. There were other hoaxes, according to Vieira.

“I saw that [Xavier] was conducting some séances of which I was not part of ... where they sometimes told of Scheila’s [the spirit] perfumes... [Then] one day... he went to post something in the mail,... I went to his closet that had the door open and I intended to close it. When I got there, I saw a bag full of flasks... He used the perfumes... it was of roses... [I confronted him and] then Chico started to cry in front [of me].”

The use of scents allegedly of a supernatural origin was a common Spiritualistic trick. That the Spiritist leader and foremost “medium” in Brazil used them, according to one of his closest associates, is very revealing.

But nothing beats the case of Otília Diogo.

Sister Josefa



Just look at this photograph. Is that part of a comedy show? It may be funny, but not intentionally so. The photo was captured in 1964, and the man smiling in sunglasses is Chico Xavier himself. The person covered in white sheets is the medium Otília Diogo, or as Spitirists believe, the “materialization” of the spirit of sister Josefa in ectoplasm. Thanks to the mediumship of Otília Diogo, of course.

Other photos clearly show the medium behind the veil, and in fact, the veil had a rectangular semi-transparent part to allow Diogo to see. The alleged ectoplasmic materialization could be touched and also hold a heavy Bible. That’s very material indeed. And even believers noticed how the medium, Diogo, had a remarkable similarity to the face of the spirit.



And yet, they believed it. They still believe it. Xavier was there and he emphatically claimed the materializations were real and authentic. But the case would soon turn into turmoil.

The photos here were taken by Cruzeiro magazine, which had the utmost priority of selling more magazines. First promoting then exposing the hoax served them well. After first publishing an article where they left whether the “Uberaba materializations” were real open to interpretation, they then proceeded to expose the hoax they helped to promote.



Caught!

And expose they did. With clear photos it’s obvious that the “materialization” is simply the medium Diogo in sheets. Believers even claimed the spirit went through solid steel bars, but the photos show that it was simply some sheets thrown to the other side, while the very solid (and alive) medium was behind them.

Cruzeiro couldn’t have had better news when in 1970, Otília Diogo was finally caught red-handed. She wanted to have her wrinkles removed with plastic surgery, and as a payment for the surgery, she offered to conduct materialization séances in the house of the doctor, a believer. But the doctor was not that gullible and was suspicious of the small briefcase she always had with her. When he and his family managed to open it while Diogo was sleeping, they found all the “ectoplasm,” that is, all the very material garments and veils she used to portray different spirits.

Her tools even included some perfume used “to reinforce the presence of the spirit.” Just like Xavier, according to Vieira.

Finally exposed in her fraud, what would Diogo say? “I lost my mediumship in 1965, but I thought I should keep performing materializations. I didn’t want anyone to notice.”

And people believe it. Most Spiritists in Brazil, when informed about Chico Xavier’s involvement with the case of Otília Diogo, firmly believe that although she was definitely a hoaxer, she only started to hoax shortly after the phenomena was witnessed and authenticated by Xavier. That’s an amazing example of cognitive dissonance.

Even though the photos taken during those 1964 séances clearly show a person using veils and are obvious evidence of the hoax, many still believe that ectoplasm works in mysterious ways —including looking exactly like a common veil. We skeptics are still arguing with believers who staunchly defend the case with elaborate arguments —all of which have been refuted— but the first and obvious impression that one gets from the photos is quite right. Those are quite simply ridiculous hoaxes.

Smart People Believe Weird Things

Now, Waldo Vieira was also a witness during those séances, and he revealed that from the beginning they had their suspicions about Diogo. But he also claims that Diogo was also an authentic psychic, just as Xavier. Although a hoaxer at times, she also had extraordinary paranormal powers. The cognitive dissonance is complete.

Even if one accepts that these alleged mediums were hoaxers, the believer will convince himself that some of the phenomena must have been authentic. Paraphrasing the old quirky philosophical question, if a hoaxer is not caught hoaxing in the middle of the forest, did he hoax? To the believer, the answer is clear. The most elaborate and unthinkable arguments are presented to argue that those ridiculous hoaxes could, or even must, have been authentic.

Time and again one can find such examples, and the story of Otília Diogo, so famous in Brazilian Spiritism, is almost identical to the story of Florence Cook’s materializations of Katie King, which occurred almost a century earlier at the height if Victorian Spiritualism. She only started to hoax after the examination by William Crookes, the believers will argue. The Swiss contactee Billy Meier may have hoaxed some photos, but he must have started it after he had some authentic contacts with aliens from the Pleiades.

There’s much more in the story of Chico Xavier, certainly, since we didn’t even approach in any detail his main paranormal claim of 400 “psychographed” books. That’s for another opportunity.

But, as famous as he was for his moral guidance and spiritual messages published in hundreds of books, let’s end with a particularly interesting snippet: “The truth that hurts is worse than the lie that comforts.... Those who can will understand this.”

[1] The total number of atheists and nonreligious citizens in Brazil is probably comparable to and perhaps even greater than the number of Spiritists, however the IBGE refuses to tally the number of atheists in the Census.
[2] Many members of the Brazilian upper classes, including the entertainment elite, are Spiritists. It's considered more refined than traditional Catholicism.
[3] The work by Visoni is freely available in Portuguese at http://obraspsicografadas.org/.



Kentaro Mori is a Brazilian skeptic with his own website, Forgetomori.

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Tradução:
Espiritismo no Brasil e a dissonância cognitiva

Publicado por Gabriel Bassi
http://racionalistasusp.wordpress.com/2011/12/04/espiritismo-no-brasil-e-a-dissonancia-cognitiva/
Traduzido da Revista Skeptical Inquirer

Na Europa continental e particularmente no Brasil, um braço do espiritualismo denominado espiritismo se desenvolve e evolui numa nova religião.

Todos já vimos as antigas imagens vitorianas sobre fantasmas em lençóis brancos e em fotos desagradavelmente mal feitas de espíritos criados a partir de dupla exposição, principalmente resultado do movimento espiritualista no Reino Unido e nos Estados Unidos. O movimento atingiu seu auge no final do século XIX, sendo considerado um modismo dos dias atuais quase um século depois.

Porém, em alguns países, especialmente na Europa continental e particularmente no Brasil, um braço do espiritualismo denominado espiritismo ainda é muito significativo e continua evoluindo, fazendo-o um exemplo formidável do desenvolvimento de uma nova religião. Seus seguidores irão logo enfatizar a distinção entre a visão mais ampla do espiritualismo e do espiritismo, o qual foi fundado por um francês chamado Hypolite Rivail (1804-1869) sob o pseudônimo de “Allan Kardec.” Esse modismo, ou falácia, vem sendo promovido em nome da ciência.

Chico Xavier

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o qual conduz os censos oficiais, o Brasil possui o maior número de espiritistas no mundo: por volta de 2,3 milhões de seguidores, quase 1,3% da população total, e o terceiro maior grupo religioso, atrás somente dos católicos e evangélicos (1)

Todos esses três grupos são cristãos. Os espiritistas brasileiros dão especial ênfase para “O Evangelho Segundo o Espiritismo.” O líder mais importante desse movimento no Brasil, Francisco “Chico” Xavier (1910-2002), é nosso maior foco de interesse aqui, pois simboliza o espiritismo brasileiro.

Chico Xavier é considerado um médium. Porém sua maior forma de mediunidade é a “psicografia”, isso é, a escrita automática pela qual ele afirmava contactar pessoas mortas por meio de cartas “escritas” pelo morto, e também por meio de livros “escritos” por autores famosos já falecidos.

Vendendo esses livros “psicografados”, os quais Xavier escreveu por volta de 400, o movimento conseguiu florescer e promover trabalhos de caridade num loop auto-alimentado onde cada elo reforça o outro, tendo-se Xavier em seu topo. Obviamente não era nenhum Saxy Sadie, mas, mesmo em vida, Xavier vivia modestamente e nunca se casou, sendo adorado como um tipo de santo ascético. Não há evidências de que sua imagem divulgada por seus seguidores não fosse verdadeira. Quase uma década após sua morte, e no centenário de seu nascimento, sua vida foi dramatizada e divulgada em filme (2), é quase impensável questionar a pessoa pública de Xavier.

Mas uma análise crítica dos poderes paranormais de Chico Xavier rapidamente revela sua maior falha. Fiquei surpreso. Até o momento em que me aprofundei na pesquisa, sempre assumi que as afirmações de Xavier tinham algo de verdadeiro. Se não eram um fenômeno paranormal autêntico, pensei que ao menos se chegaria a algo insolucionado ou intrigante. Mas não foi o caso.

“Odorização”

Um amigo íntimo, Vitor Moura Visoni (3), procurou encontrar um dos maiores e mais íntimos afiliados de Xavier, Waldo Vieira, para verificar se Xavier promovia eventos fraudulentos. Vieira deveria saber disso, pois estava com Xavier.

“Trabalhadores do Centro Espírita faziam fila para conseguir detalhes de falecidos ou se utilizavam de histórias contadas pelos parentes nas cartas onde pediam por um encontro. As mensagens de Chico tinham essa informação”, Vieira revelou. Isso poderia explicar as cartas “psicografadas” com detalhes que “somente os mortos sabiam”. Mais que uma simples “leitura fria”, era justamente um falsificação legítima. Havia outras falsificações, de acordo com Vieira.

“Vi que [Chico Xavier] estava conduzindo algumas sessões espíritas nas quais eu não era participante... onde algumas pessoas às vezes relatavam sobre os perfumes de Scheila [o espírito]... [Então] um dia... ele foi colocar algo no correio,... fui até seu quarto, o qual estava com a porta aberta, pretendendo fechá-la. Quando cheguei lá, vi um saco cheio de frascos... Ele usou os perfumes... e eram de rosas... [Perguntei-o sobre isso] então Chico começou a chorar na minha frente.”

O uso de odores supostamente de origem sobrenatural é um truque espiritualístico comum. Tanto que o líder espiritista e mais destacado “médium” do Brasil o utilizou, de acordo com um de seus afiliados mais íntimos, é algo bastante revelador.

Mas nada ganha do caso de Otília Diogo.

Irmã Josefa


Olhe essa foto. É parte de um show de comédias? Pode ser engraçada, mas intencionalmente não é. A foto foi tirada em 1964, e o homem sorridente de óculos de sol é o próprio Chico Xavier. A pessoa coberta pelo lençol branco é a médium Otília Diogo, ou como os espiritistas acreditam, a “materialização” do espírito de Josefa em ectoplasma. Graças à mediunidade de Otília Diogo, é claro.

Outras fotos claramente mostram a médium atrás do véu, e, de fato, o véu possui uma parte retangular semi-transparente para permitir que Otília pudesse enxergar. A suposta materialização ectoplásmica pode ser tocada e também segurar uma bíblia. Isso é realmente muito material. E até mesmo os crentes noticiaram como a médium, Otília, possuía uma similaridade marcante com a face do espírito (abaixo).


E assim acreditaram. E ainda acreditam nisso. Xavier estava lá e enfaticamente afirmou que a materialização era real e autêntica. Mas o caso logo se tornou uma grande confusão.

As fotos foram tiradas pela revista Cruzeiro, a qual possuía a principal prioridade de vender mais revistas. Primeiro promover e então expor a fraude serviu como uma luva. Após publicar primeiramente um artigo no qual questionavam se as “materializações de Uberaba” eram reais e abertas a interpretações, procederam então para expor a fraude que ajudaram a promover.


Pegos no ato!

E então expuseram. Com fotos claras fica óbvio que a “materialização” é simplesmente a médium Otília em lençóis. Os crentes até mesmo afirmavam que o espírito atravessava barras de aço sólido, mas as fotos mostram que era somente alguns lençóis que eram jogados para o outro lado, enquanto a médium, muito sólida (e viva), estava por trás das barras.

A Cruzeiro não poderia ter tido melhor furo de reportagem quando em 1970, Otília Diogo foi finalmente pega no ato do crime. Ela queria fazer plástica para remover suas rugas, e como pagamento pela cirurgia, se ofereceu para conduzir uma reunião espírita de materialização na casa do médico, um crente no espiritismo. Mas o médico não era tão ingênuo assim, e ficou com suspeitas sobre uma maleta que sempre estava com Otília. Quando ele e sua família tentaram abri-la enquanto Otília dormia, encontraram todo o “ectoplasma”, isso é, todas as vestimentas e véus materiais que utilizava para interpretar diferentes espíritos.

Suas ferramentas incluíam até perfumes para “reforçar a presença do espírito.” Assim como Xavier, de acordo com Vieira.

Finalmente exposta a fraude, o que Otília poderia dizer? “Perdi minha mediunidade em 1965, mas pensei que poderia manter a encenação das materializações. Não queria que alguém percebesse.”

E as pessoas acreditaram nisso. Grande parte dos espiritistas do Brasil, quando informados sobre o envolvimento de Chico Xavier no caso de Otília Diogo, acreditou piamente que embora ela fosse definitivamente uma farsante, somente começou a difamar pouco tempo após Xavier ter autenticado e testemunhado os fenômenos. Esse é um exemplo clássico de dissonância cognitiva.

Mesmo que as fotos tiradas durante aquelas reuniões espíritas de 1964 claramente mostrarem uma pessoa utilizando véus, obviamente uma evidência falsa, muitos ainda acreditam que o ectoplasma funciona de maneiras misteriosas – incluindo se parecer exatamente como um véu comum. Nós, os céticos, ainda argumentamos com os crentes que defendem veementemente esse caso com argumentos elaborados – sendo que todos foram refutados – mas a primeira e óbvia impressão das fotos tiradas é um tanto certeira. São exemplos simples e ridículos de falsificações.

Pessoas espertas acreditam em coisas estranhas

Waldo Vieira também era testemunha dessas reuniões espíritas, revelando que desde o início já tinha suspeitas sobre Otília. Mas também afirma que Otília era uma psíquica autêntica, assim como Xavier. Embora fosse uma falsária às vezes, ela também tinha poderes paranormais extraordinários. A dissonância cognitiva é completa.

Mesmo se alguém aceitar que esses médiuns eram falsários, o crente irá se auto-convencer que parte do fenômeno falsificado é autêntica. Parafraseando uma questão filosófica antiga e peculiar, se um falsário não for pego em seu ato fraudulento no meio da floresta, ele cometeu a fraude? Para os crentes, a resposta é clara. Os argumentos mais elaborados e impensáveis são apresentados como argumento para aquelas fraudes ridículas que podem ter sido consideradas como autênticas.

Voltando no tempo novamente podemos encontrar exemplos de falsários. E a história de Otília Diogo, tão famosa no espiritismo brasileiro, é quase idêntica à história das materializações de Florence Cook feitas por Katie King, as quais ocorreram quase um século antes no auge do espiritualismo vitoriano. Os crentes irão argumentar que ela somente começou a fraudar provas após ser examinada por William Crookes. Bill Meier, o suíço que diz ter contatos com alienígenas pode ter falsificado algumas fotos, mas deve ter começado a fazer isso após ter tido alguns contatos autênticos com alienígenas provindos das Plêiades.

Certamente há muitas outras histórias sobre Chico Xavier, pois não entramos em detalhes na sua principal afirmação paranormal dos 400 livros “psicografados”. Essa é outra oportunidade de desmascará-lo.

Porém, como foi uma personalidade tão famosa por seus preceitos morais e mensagens espirituais publicadas em centenas de livros, terminaremos com um pequeno fragmento particularmente interessante: “A verdade que machuca é pior que a mentira que conforta… Aqueles que conseguem compreendê-la irão entender.”

Tá dááá!! Por hoje é só, amiguinho!

Referências

[1] O número total de ateístas e cidadãos não religiosos no Brasil é provavelmente comparável ou até maior que o número de espíritas, porém o IBGE se recusa a quantificar o número de ateístas no censo.
[2] Muitos brasileiros das classes sociais mais altas, incluindo a elite do entretenimento, são espíritas. Considerando-se mais requintados que o catolicismo tradicional.
[3] o trabalho de Visoni está disponível gratuitamente em português em 
http://obraspsicografadas.org/
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