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terça-feira, 14 de junho de 2016

Espiritismo e política - I

Primeiramente, devo reconhecer o valioso esforço pessoal de alguns espíritas na consecução de determinados objetivos de assistência e promoção sociais. A criação de obras sociais, algumas grandiosas, que visam a auxiliar indivíduos e famílias em situação de risco social é algo a ser enaltecido e louvado.

Esses indivíduos, e conheço alguns muito proximamente, grosso modo, possuem caráter exemplar e vontade carregada de energia criativa. Mas há outra característica que gostaria de aqui destacar: o empreendedorismo. Essas pessoas, que dedicam parte de sua vida – e alguns toda a sua vida! – a amparar, proteger e cuidar de outras pessoas de forma voluntária, foram capazes de construir escolas, hospitais, asilos, creches e outros instrumentos, por meio da liderança de grupos de indivíduos para a realização dum sonho. Enxergaram um objetivo, agregaram outras pessoas para compartilhar metas, construíram mecanismos para a obtenção dos recursos necessários, lideraram a execução das tarefas e empenharam muito esforço no acompanhamento dessa realização.

Mostraram, com os resultados alcançados, que, além de indivíduos com um imenso coração, são administradores de qualidade e ótimos gestores de projetos.

Mas, e sobre os resultados? Quantas pessoas ou famílias são atendidas numa instituição qualquer de um desses casos de sucesso de acolhimento social? Bem, eu conheço algumas obras grandiosas, e a quantidade de pessoas atendidas chega à casa dos milhares. Um sucesso, se analisado apenas pelo resultado objetivo, pois aos atendidos restou a oportunidade ofertada de mitigar uma difícil situação social ou pessoal.

Não obstante o sucesso no atendimento a tantos indivíduos na mais grandiosa das obras sociais que se possa citar, a quantidade de pessoas atingidas sequer arranha o tamanho do problema social em que vivemos, haja vista a desigualdade social extrema, a precariedade crônica no atendimento à saúde e à educação e ao drama da renda miserável a que se submete a maioria da população.

Posso aqui citar a frase atribuída à madre Tereza de Calcutá:

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.”

Sim, seria menor, mas numa proporção insignificante diante da imensidão do problema. O que me leva a pensar que as características já relatadas desses indivíduos empreendedores seriam mais bem aproveitadas se canalizadas para a busca de soluções em escala mais apropriada à dimensão do problema. Ou seja, em vez de construir uma escola ou um hospital, gastando esforços, capacidades e recursos valiosos, onde serão atendidas apenas poucas pessoas, por que não construir muitas escolas e hospitais? Ou administrar melhor os que existem? Em vez de mitigar o problema de algumas famílias, por que não os buscar solucionar para muitas famílias?

De que falo? Ora, de política! Esses indivíduos seriam o crème de la crème, o melhor que se poderia esperar dum político num país tão cheio de carências sociais e morais. Pensem num desses espíritas que construíram uma obra social grandiosa, que atendem a um sem-número de famílias. Agora, imaginem-no prefeito de sua cidade, governador de seu estado ou presidente desse país, propondo e executando políticas sociais consistentes. Ou mesmo vereador, deputado ou senador, legislando sobre os graves problemas que enfrentamos.

Teríamos então homens de caráter e coração bondoso, com visão social aguçada e forte espírito empreendedor, lutando para superar nossos abismos sociais e vencer nossas chagas morais. Penso que a política seria seu local de trabalho por excelência. Afinal, são talentos. E talentos que precisam ser direcionados para o melhor resultado.

A contradita se poderia fazer por meio da criminalização da atividade política, como sói acontecer, jogando todos os seus partícipes na mesma lama suja que hoje enxergamos. Mas, nesse ponto, tem-se outro problema: a política não é uma forma de resolver as questões da sociedade, é a única forma. E se não nos esforçarmos para mudar o perfil de nossos representantes políticos, nossos problemas jamais serão resolvidos a contento. Já não seria, então, a hora de olharmos a política de forma mais madura? Será que a crise moral e política que hoje percebemos não seria capaz de mudar nossa forma de participação? Afinal, se os políticos hoje nos envergonham, lá estão porque foram votados não por uma entidade mágica, mas por nós eleitores.

Aqui falo para espíritas, mas o mesmo se poderia dizer de qualquer outro segmento social com características similares: probidade comprovada, desejo de fazer o bem e forte espírito empreendedor. E isso para deixar claro que não apoio nenhum espírita por ser espírita, mas homens e mulheres que se enquadrem nessas características.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Salvador, plural e diversa

Hoje, eu e a Nega fizemos um percurso diferente na caminhada matinal. Em vez de irmos, como sempre fazemos, ao Iate e depois às Gordinhas da Ondina, fomos até o novo Rio Vermelho para ver as novidades da reforma e da requalificação.
Vista aérea do Rio Vermelho
Tudo muito bacana, tudo muito bonitinho, como sempre parece o início de qualquer intervenção urbanística. Mas não é sobre a beleza do tradicional bairro do Rio Vermelho que quero falar, e sim sobre os detalhes que percebi na caminhada.
A boa impressão: a reforma preservou as diversas esculturas do bairro que fazem referência ao universo do candomblé, como a tradicional "Iemanjá", festejada no bairro sempre no 2 de fevereiro, localizada bem no Largo da Mariquita; o "Cetro da Ancestralidade", do Mestre Didi, com seus 7 metros de altura, agora com mais destaque e beleza; e a "Odoyá", ou mais conhecida como "Espinha de Peixe", que é uma escultura criada pelo artista plástico Ray Vianna também em homenagem à Iemanjá. Ainda há outras referências interessantes desse mundo religioso afrobrasileiro no boêmio bairro soteropolitano.
A caminhada me remeteu à polêmica criada em torno da proposta de lei de uma vereadora evangélica fundamentalista, que pretendia instalar a escultura de uma Bíblia em pleno Dique do Tororó, para afrontar os orixás que embelezam o local. Afora a estupidez insensata da proposta do edil, aprovada na Câmara de Vereadores no dia 25 de novembro de 2015, o prefeito da cidade, conhecido pela alcunha de ACM Neto, manifestou-se contrário ao projeto, apesar de não o ter ainda vetado formalmente.
Mas há esperanças de que essa barbaridade cultural não seja levada adiante, por conta da postura plural que o prefeito tem tido em relação à diversidade religiosa e cultural que caracteriza a soterópolis baiana.
Cetro da Ancestralidade, no Rio Vermelho
E aqui o ponto positivo: sempre digo em conversas que as personagens de novelas e romances são caricaturas, pois há sempre os bons e os maus, e os bons jamais erram e os maus jamais fazem algo merecedor de elogios. Não, as pessoas no mundo real não são assim. Com isso em mente, apesar da minha postura de oposição política à gestão do prefeito, devo reconhecer seu acerto, não pelo embelezamento de partes turísticas da cidade, esquecendo-se dos subúrbios miseráveis, mas pela postura plural e promotora da diversidade.
A promoção da diversidade pôde também ser vista por nós na caminhada quando passamos por um órgão da prefeitura singular: o Centro de Referência LGBT, situado no Rio Vermelho. O órgão é gerido pela SEMUR (Secretaria Municipal da Reparação), que atua com programas para superação de diferenças de gênero e étnicas na cidade.
Gol do Netinho! Por preservar a cultura ancestral do povo africano na Bahia, lutando contra os fanáticos fundamentalistas evangélicos, e por legitimar as muitas diferenças humanas por meio de órgão específico de promoção da igualdade, porque somos todos humanos, independente de crença, etnia, sexo, orientação sexual, posição política e nacionalidade.
E Salvador, que sempre foi plural e diversa, não merece que sua liberdade seja solapada por intransigentes e intolerantes teocratas.
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