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segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Sobre a tolerância: "vão embora e levem seu ódio"

"Iká kó dógba"
(Os dedos não são iguais)(1)

Mãe Stella de Oxóssi, ialorixá do terreiro soteropolitano Ilê Axé Opô Afonjá, ensina a tolerância, por meio do ditado iorubano da epígrafe. O homem Jesus, em sua comparação sobre a samaritana, também fala sobre tolerância. Os sábios, todos, falam de tolerância como condição basilar da convivência social.

Tolerar é entender que todos são, nas expressões, sentimentos e opiniões, diferentes, mas, na essência, iguais. Todos são iguais nas suas diferenças e esse entendimento leva, naturalmente, à convivência pacífica com o outro.

Quando se percebe o outro como o inferno(2), que impede a plena manifestação da própria individualidade, é porque a tolerância se esvaiu pela expressão da pura irracionalidade, e a única forma de expor a dificuldade argumentativa é o ódio e a intolerância. Isso se chama fascismo.

A intolerância é a expressão da falência da possibilidade de convivência com o diferente e da empatia que se carrega para o trato social.

Sociedades que se pretendam civilizadas não devem tolerar a intolerância, como ensina Locke em sua famosa "Carta"(3). O que pode parecer, à primeira vista, uma contradição filosófica, bem percebida pelo pensador inglês, é a fórmula para se permitir uma sociedade em que todos possam exprimir-se e conviver sem manifestações de ódio que a joguem de volta à barbárie.

Sim, não se pode tolerar o intolerante, porque esse não tem condições moral e intelectual de conviver numa sociedade civilizada, tal qual um marginal qualquer.

Cristãos que agridem profitentes do candomblé, muçulmanos que destroem expressões culturais antigas, supremacistas raciais que não suportam conviver com etnias diversas, militantes políticos que agridem verbal e fisicamente seu opositor ideológico, são todos incapazes de viver numa sociedade minimamente civilizada e, por isso, voltando a Locke, não devem ser tolerados e devem ser tratados como marginais abjetos e afastados desse convívio.

Na triste expressão de ódio promovida pelos supremacistas brancos no último sábado (12 de agosto de 2017), em Charlottesville, Virgínia, Estados Unidos, seu governador, o democrata Terry McAuliffe, brindou a todos com o que se espera de qualquer pessoa tolerante: "vão embora e levem seu ódio". Ou, resumindo, não se tolera o intolerante. E essa posição, apontada pelos incautos e cheios de ódio como contraditória, é a alma das sociedades contemporâneas civilizadas.

(1) OXÓSSI, Mãe Stella de. Òwe. Salvador: África, 2007.
(2) "O inferno são os outros".
SARTRE, Jean-Paul. Entre quatro paredes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.
(3) LOCKE. John. Carta sobre a tolerância. São Paulo: Hedra, 2007.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Diálogos palestinos – II

Ele:
- Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra. (Mt 5,5)
Um seguidor resolveu perguntar:
- Então devemos sempre ser mansos e pacíficos?
Ele:
- Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus. (Mt 5,44)
Ainda curioso o seguidor:
- E se for pelo inimigo provocado, devo ser ainda manso e pacífico?
Ele:
- Ouvistes que foi dito: olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. (Mt 5,38-39)
E, saindo dali, foram ao templo. Então:
E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; tendo feito um açoite de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas e disse aos que vendiam as pombas: tirai daqui estas coisas. (Jo 2,14-16)
Um seguidor assustado questionou:
- Mas acabaste de ensinar sobre a mansidão e a paz, como entras assim no templo chicoteando pessoas e derrubando seus pertences?
Ele:
- Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. (Mt 12,34)
Um seguidor:
- Mas, cara, não era para dar a outra face e jamais reagir ao mal?
Ele:
- Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. (Mt 5,25)
Um seguidor:
- Mas tu fizeste isso?
Ele:
- Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus. (Mt 5,48)
Um seguidor:
- Ah, vai à merda...

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A guerra religiosa não declarada no Brasil

Onde isso parará?

Os evangélicos estão conseguindo transformar esse País num lugar de ódio, medo, intolerância e discriminação.

O vídeo apresentado no endereço abaixo é uma reportagem do SBT sobre a agressão sofrida por uma menina de 11 anos, executada por homens evangélicos, após sua saída de um culto do candomblé.

E se alguém reagisse e espancasse os crentes agressores? Ah, certamente algum deputado da famigerada bancada evangélica ou um pa$tor bandido qualquer (desses que pregam ódio em canais de TV) sairia a gritar: cristofobia!

O Brasil está em guerra. E é uma guerra entre a razão, o amor e a tolerância democrática contra o ódio, o medo e o fundamentalismo religioso medieval.

E de que lado você está?

http://www.sbt.com.br/jornalismo/noticias/53577/RJ:-Homens-agridem-garota-que-voltava-do-culto-de-candomble.html#.VYLIK_lVhBc

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Diálogos palestinos - I

Ele:
- Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de deus. (Mt 5,9)
Um seguidor:
- Puxa, que bacana...
Ele:
- Mas agora, aquele que tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e, o que não tem espada, venda a sua capa e compre-a. (Lc 22,36)
Um seguidor:
- Não entendi, se é para pacificar, para que comprar uma espada?
Ele:
- Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. (Mt 12,34)
Um seguidor:
- Calma, tio, é só uma perguntinha! Eu só não tinha entendido. Aliás, continuo sem entender...
Seguem-se vários eventos até sua prisão.
Um seguidor:
Estendendo a mão, puxou da espada e, ferindo o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha. (Mt 26,51)
Ele:
- Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. (Mt 26,52)
Um seguidor:
- Porra, cara, decida o que tu queres! Para que comprei então essa espada? Para brincar de soldadinho?
Ele:
- Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. (Mt 10,34)
Um seguidor:
- Ah, vai à merda...

sábado, 29 de abril de 2006

A verdade que liberta

Artigo de Sergio Mauricio publicado na coluna Religião do Jornal A Tarde, Salvador, BA, em 01/08/2005 .

A mensagem cristã divulgada há cerca de dois mil anos, apesar da idade, ainda é uma novidade entre nós, ainda é um evangelho, uma boa nova. Seu conteúdo moral e espiritual foi deturpado e conspurcado pelos homens durante esse longo período de história, tornando-se um amontoado de rituais tolos, crendices sem fundamentos e hierarquias e postos sacerdotais mais preocupados com os poderes terrenos do que com a construção do reino dos céus.

O espiritismo propõe reviver a mensagem original e inovadora ensinada por Jesus, a mensagem revolucionária da renovação pessoal através da prática do amor e da caridade e da busca da compreensão da condição humana diante da vida, mensagem bem representada pela máxima ditada pelo Espírito da Verdade constante n’O Evangelho segundo o espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”.

Mas, já próximo o seu sesquicentenário, o espiritismo, como todas as várias propostas de restauração do cristianismo, também sofre com a adulteração do tempo realizada pelos homens. A proposta espírita, fundamentada na moral de Jesus e ratificada pelas mensagens mediúnicas, é a do amor, da compreensão e do consolo, e esses objetivos deveriam ser alcançados, conforme os ensinos propostos pelos espíritos, através do esclarecimento, do incitamento à transformação pessoal de cada um que chega a uma casa espírita. Qualquer outra prática que não crie as condições de transformação pessoal, que não estimule o indivíduo à reflexão sobre seus valores morais e sobre suas ações na vida, é mero paliativo, é como uma distribuição de indulgências, é reviver o que de mais insensato a história humana já produziu em termos religiosos. E nós espíritas estamos fazendo isso.

Jesus ensinou que se conhecêssemos a verdade ela nos libertaria, faria de nós homens livres, e é esse o espírito do consolador, do paráclito anunciado que deverá estar conosco para sempre, é ele a compreensão da verdade, a verdade que explica e consola, pois só a bênção da verdade é consoladora. A função da casa espírita, portanto, como propulsora dos ideais cristãos, é a aspersão da verdade, pois só ela será capaz de libertar o homem que sofre, através do entendimento, da compreensão das razões profundas de sua necessidade de aprendizado nas experiências terrenas.

Muitas práticas espíritas, apesar de ostentarem o verniz da boa vontade, mais aprisionam o homem do que o libertam. Uma casa espírita que mantém, por exemplo, plantões de passes, além de grave erro doutrinário (Revista espírita, set.1865), estimula a irreflexão e a busca pelos meros analgésicos, que não são capazes de enfrentar seriamente o problema real da criatura humana. As pessoas vão em busca da solução dos seus problemas mais comezinhos, como as dificuldades financeiras, os dramas amorosos, as crises nos relacionamentos familiares, dentre outros; e a casa espírita deveria orientar, ensinar (e isso é verdadeiramente consolar), sobre a necessidade da transformação, da mudança de postura diante de problemas tão comuns à vida de todos nós que estamos nesse nível evolutivo, e não apenas aplicar passes ou fazer atendimentos de desobsessão. Ora, há espíritos em torno de nós a todo o momento, a nos acotovelar, no dizer de Kardec, e muitos querem-nos prejudicar e outros tantos ajudar-nos. Se a qualquer problema do cotidiano, a casa espírita for encaminhar o atendido a uma desobsessão, teremos que viver dentro dela, e o que é pior, numa versão moderna e espírita, cá estamos nós oferecendo as nossas indulgências. A desobsessão é remédio a ser usado com conhecimento profundo e aplicado em casos em que sua necessidade seja inconteste.


É preciso evangelizar, não apenas com palestras e cursos introdutórios de espiritismo, é preciso que o público que procura uma casa espírita –e principalmente seus condutores– tenha contato direto com leituras dos evangelhos sobre Jesus e das obras de Kardec, prática infelizmente pouco comum. As casas espíritas devem seguir o caminho da divulgação desses textos, que fundamentam o verdadeiro cristianismo, como única forma de cumprir o papel de consolador e de orientador, libertando o homem ao invés de aprisioná-lo, além de ser também o único caminho de se buscar a coerência doutrinária e a tão desejada unificação.
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