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terça-feira, 6 de maio de 2014

Chiquismo: a doença infantil do espiritismo

Por Randolfo*

O título é uma paródia a uma grande obra de crítica ao esquerdismo em detrimento do socialismo. E também nem guarda real proporção, pois o espiritismo não gera nenhuma doença - os espiritualistas que se dizem espíritas é que fazem isso.

Temos observado a derivação do movimento dito "espírita" no Brasil na direção contrária às recomendações da codificação e mesmo às particulares de Kardec. O espiritismo no Brasil não se orienta, na prática, pelas obras codificadoras e sim pelas obras de um único autor - Chico Xavier.

Infelizmente, esse autor não prezou pelos aspectos científicos ou filosóficos do espiritismo, preferindo enveredar por um caminho roustanguista fácil, o do religiosismo místico. E como a FEB privilegiou esse autor que tão bem serviu aos seus propósitos (vide Conscientização espirita, de Gélio Lacerda).


Nós temos um companheiro que costuma dizer que o problema não é o que se lê e sim o que se faz com o que se lê. A derivação religiosista, visando implementar uma verdadeira instituição religiosa no meio espírita, é mais fácil de ser seguida e compreendida, pois não requer maiores reflexões, tanto como também não estimula investigações, aferições. Mas, a culpa é de quem lê e não compara com a codificação, pois a codificação tem "linguagem difícil", ou é "muito complicada", nos dizeres de muitos que se dizem "espíritas".

Foi instituída, então, uma ditadura no meio espírita - o "chiquismo". É uma ditadura, pois foi massificada e assimilada pela maioria e absolutamente quase não há fóruns de debate sobre ela. Nota-se: em lugar NENHUM, seja congresso, seminário, simpósio que seja "espírita", abre-se espaço para se questionar NENHUMA obra de Chico Xavier. Muito pelo contrário - quem contesta esse autor é segregado, atacado e humilhado.

Não há como deixar de avaliar que o chiquismo possui instrumentos próprios para sua manutenção: tem base literária, coerência com seus princípios místico-religiosos e uma vasta rede de instituições, tanto como editoras e mídia que o suporta.

Conforme verificamos que o eixo de compreensão do espiritismo, segundo esse movimento, move-se exclusivamente na direção das obras de Chico Xavier e considerando o detrimento em que passa a se situar a codificação espírita, tanto quanto as claríssimas contradições existentes, eis que temos, agora, de fato, a instituição de uma religião. Mas, não se chama espiritismo, pois não se torna uma religião o que não se é.

Inaugura-se no Brasil o "chiquismo", uma religião sincrética, que por mera questão de marketing intelectual assume as feições do espiritismo, sem o ser.

Nota-se que mesmo os autores que seguem essa tendência são sempre ofuscados pela pressão desse grupo, que substituiu Roustaing (que a maioria estranhamente alega nem conhecer...) por Chico Xavier. Kardec ficou absolutamente em segundo plano.

Nota-se como no meio espírita se homenageia o citado autor, como se lhe enchem de julgamentos morais, enquanto o codificador do espiritismo jaz esquecido. Nunca é citado como exemplo moral (alguém mais notou isso?), nunca é citado como exemplo intelectual (também se notou isso?). Aliás, Kardec nunca é citado como modelo de espírita. Para os chiquistas, modelo de espírita é quem contradisse o espiritismo: Chico Xavier.

Nós, defensores do espiritismo, precisamos amadurecer e aceitar os fatos: há uma religião, ela é majoritária e o culto à personalidade é preponderante. E não se pode ignorar a comparação com os iniciantes anos do cristianismo: os ensinamentos de Jesus foram logo deturpados e ele, que não fundou religião nenhuma, viu seu nome ser utilizado para desvios absolutos, que culminaram até na perda de vidas.

E hoje Kardec é utilizado apenas de fachada para agredir-se justamente quem defende seus ideais...

A realidade impõe aos espíritas (uma classe bem mais minoritária do que imaginamos) não o combate a essa seita chiquista, mas o esclarecimento ao nosso povo.

A função do espiritismo é o esclarecimento. Nosso dever é prosseguir nisso. E como se faz? Divulgando a codificação e fazendo principalmente o que Chico Xavier nunca fez, nem tampouco seus defensores: BUSCAR A VERDADE.

Enquanto assistimos a essa nova seita afirmar que os dizeres desse autor são verdades absolutas, não assistimos à busca pela verdade, mas seremos cúmplices se ficarmos parados.

A luta pelo propriedade da expressão "espiritismo" não existe e nem pode existir. A luta pela verdade, sempre.

Queremos a verdade, queremos as obras mediúnicas submetidas à aferição, queremos a investigação dos fenômenos espirituais, queremos fazer novas perguntas para obtermos novas e verdadeiras respostas dos espíritos superiores. Queremos o espiritismo nos ESCLARECENDO e isso somente se dá por meio de informações fidedignas. O fanatismo em prol de uma única pessoa, um único espirito, um único autor, continua possuindo as mesmas características em todas as eras e momentos históricos. Quem seguia Hitler, por exemplo, o considerava infalível...

O chiquismo não precisa ser combatido. É mais uma religião e nada mais, perdida no meio de tantas outras - e a mais inexpressiva, pelo número de pessoas que a adotam. Enquanto evangélicos, que eclodiram somente a partir dos anos 60 no Brasil, hoje são metade da população do país, o chiquismo, essa doença infantil fruto da idolatria, que conta com a mesma idade, possui pífio 1% de nossa população. O chiquismo, então, só possui importância para os chiquistas - não para a imensa maioria do povo brasileiro.

Urge que façamos diferente e levemos o espiritismo verdadeiro a esse povo, carente de esclarecimento e do consolo que só vem pela verdade.

*Randolfo é moderador da comunidade "Eu sou Espírita - Espiritismo" do Orkut.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Eu, Mateus e um bom café



Nas minhas andanças por Salvador, em busca dos melhores cafés, conheci hoje um novo local: o Café Primaz. Um lugar muito simpático e calmo e com um café gostoso, apesar das poucas opções no cardápio. Situado atrás da Igreja da Sagrada Família, conhecida como Igreja das Doroteias, no bairro do Garcia, bem próxima ao Campo Grande. É fácil de chegar e tem estacionamento farto e gratuito.

Há ainda uma pequena livraria católica que compartilha o espaço interno do Café, com obras dogmáticas e filosóficas. E como livros são uma fraqueza do meu caráter, passei logo a apreciá-los, pegando um e outro, folheando alguns e consultando os preços apresentados. No meio deles, uma obra me chamou a atenção: um livro que fazia uma leitura comentada do evangelho de Mateus.

Alguém mais incauto poderia perguntar-se: “ele lendo um texto evangélico?” Sim, claro! E por que não? Deve-se ler sobre tudo, sempre em busca do conhecimento. E mais, dentre os textos evangélicos, o texto de Mateus é o que mais aprecio, pois é o mais descritivo, histórico e humano. Sim, humano, pois é o que retrata a personagem Jesus de forma mais humana. Afora uma ou outra bobagem do texto, que se pode reputar a problemas históricos e de dominação social, facilmente identificados nas interpolações e extrapolações que se destacam no contexto da obra, o livro é interessante e apresenta um homem bom com suas angústias, desassossegos, desejos e esperanças. Um homem que duvida, que sofre, que acalenta e apascenta. Ou seja, um homem pleno, com qualidades e problemas, virtudes e vícios. Nada divino. Humano, demasiado humano.

Por isso gosto da boa nova de Mateus, que se opõe ao texto joanino, cheio de intenções e voltado a um público menos crítico, que apenas quer crer, jamais pensar. Mateus, ao contrário, suscita a reflexão sobre os temas que se seguem na trajetória jesuítica, fazendo seu leitor mais consciente do papel do homem Jesus. Costumo dizer que João prepara ovelhas; Mateus dialoga com homens.

Saboreando o cappuccino do Primaz, lembrei-me dos textos por mim escritos sobre a moral proposta em Mateus ou o a fé humana de Jesus na perspectiva sinótica, vista a partir de Mateus, claro, por ser o melhor dentre os três textos que usam a fonte Q (pode-se dizer que Mateus e Marcos são praticamente o mesmo texto, com pequenas diferenças que destacam o público alvo e o contexto cultural de sua elaboração; já Lucas representa os passos iniciais da construção mitológica cristã, cujo ápice é alcançado no texto ruim dos discípulos de João).

Pois é, um café nos fundos de uma igreja trouxe-me reflexões evangélicas. Sem nenhuma conclusão ou mesmo nova análise: não havia pretensão intelectual. Trouxe-me apenas o desejo de ler aquele texto em minhas mãos que discute o bom evangelho de Mateus. Para quem quer conhecer um pouco sobre essa figura que marca profundamente a cultura ocidental, o homem Jesus, Mateus é, sem dúvida, a melhor pedida. Entretanto, sugiro como premissa um bom anteparo histórico neotestamentário e distância de discussões dogmáticas, pois o texto de Mateus é para saborear e refletir, jamais para crer.

Café Primaz, Igreja da Sagrada Família (Doroteias)
Avenida Leovigildo Filgueiras, 270, Garcia
Salvador, Bahia

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Um café com um ex-presidente

Os finais de tarde dos sábados em companhia dum bom café, cujos sabor e aroma me enlevam, e rodeado de livros numa boa livraria sempre trazem oportunidades de reflexão sobre temas que incomodam ou tangenciam algumas de minhas ideias. E essa tarde não foi diferente. Ao deleitar-me das novidades literárias e culturais deparei-me com uma inusitada: Pensadores que inventaram o Brasil, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Confesso que relutei inicialmente em comprar e ler o novo livro do sociólogo e professor Fernando Henrique. E também confesso que minha relutância apenas refletia meu imenso preconceito por sua trajetória política, que, penso, macula inexoravelmente sua trajetória acadêmica. Afinal, o presidente Cardoso foi, a meu ver, politicamente covarde e perdeu oportunidades históricas de superar algumas de nossas sérias dificuldades sociais e econômicas. E tal história repete-se, infelizmente, com os governos petistas, apesar de achar que esses conseguiram avanços um pouco mais significativos do que aquele. Mas não é de política partidária que quero tratar, e sim de sociologia, e mais especificamente de Gilberto Freyre, que considero um dos maiores pensadores brasileiros, quiçá o maior (não poderia deixar de lembrar dum outro Freire, o Paulo, um gigante da filosofia da educação).

Cumpri meu ritual bibliográfico hebdomadário: peguei o livro que ora interessava-me, sentei-me numa mesa qualquer da cafeteria, cumprimentei as atendentes pelo nome e, antes de ter a oportunidade de pedir meu cappuccino, uma delas me perguntou: “o de sempre, senhor?”. Sorri, aquiesci e acresci: “bem quente!”.

Após ritual quase religioso, desliguei-me do burburinho ao meu redor e ajustei meu foco cognitivo à leitura em questão. As páginas foram passando com celeridade, indicando que a leitura era por demais agradável. Sim, eu vencera o preconceito inicial e aproveitava agora o bom texto crítico do ex-presidente. Fui direto ao capítulo sobre Gilberto Freyre, um dos “inventores” do pensamento brasileiro, segundo o autor. E nisso, posso adiantar, em total acordo com minha insipiente interpretação sobre a realidade brasileira. Sim, não há quem leia Casa-grande & senzala que não se sinta pleno de entendimento sobre a nossa realidade social. Não é apenas um clássico da sociologia nacional, é mais do que isso: é uma obra de arte que fala do Brasil com mágica, beleza e ciência. Um dos livros mais impactantes que já li. E não apenas o li, mas o estudei com os cuidados necessários à elaboração de uma dissertação acadêmica.

Apesar de reconhecer o mérito indelével do pensamento freyreano, o sociólogo Fernando Henrique reproduz uma crítica à sua obra que sói acontecer no ambiente acadêmico: Freyre seria um conservador e um disseminador da ideia da “democracia racial” brasileira, odiada por 10 entre cada 10 estudiosos das sociologia e antropologia tupiniquins. Sua obra seria uma ode ao falacioso sistema escravista condescendente e à visão pouco realista da situação do escravo em terras brasileiras. E nesse jogo dicotômico, no qual reconhece valores quase transcendentais na obra de Freyre ao mesmo tempo em que chega a propor certo “mal estar que sua obra causou, e quem sabe ainda cause, na academia”, reforça um preconceito quase juvenil a um constructo intelectual que beira o insuperável na sociologia nacional.

“Seu café, senhor”, diz-me a atendente com simpatia, trazendo-me à realidade da livraria e fazendo-me ouvir de novo o rumor do vai-e-vem e das conversas das pessoas à minha volta. A pausa foi essencial para sorver a bebida em seu calor original. Continuo minha leitura sempre breve na livraria, a ser concluída em ambiente mais propício: a tranquilidade do silêncio.

Em nova imersão no texto sobre minhas mãos, lembro-me de outras críticas já estudadas, como os comentários dos historiadores Robert Slenes e Cristiany Rocha, que veem Freyre apenas como um defensor da ideia do patriarcado como fonte singular da formação social brasileira, chegando a afirmar que esse “inventor do Brasil” compara o escravo a um animal sem controle dos instintos que vive em situação de prostituição doméstica. E aqui não poderia deixar de citar Casa-grande & senzala explicitamente:

temos que reconhecer o fato de que desde os dias coloniais vêm se mantendo no Brasil, e condicionando sua formação, formas de organização de famílias extrapatriarcais, extracatólicas que o sociólogo não tem, entretanto, o direito de confundir com prostituição e promiscuidade. Várias delas parecem ter aqui se desenvolvido como resultado de influência africana, isto é, como reflexos, em nossa sociedade compósita, de sistemas morais e religiosos diversos do lusitano-católico, mas de modo nenhum imorais para grande número de seus praticantes” (Global, 2004, p.130).

Não obstante a clareza do discurso freyreano acima bem ilustrada, questiono-me se há realmente problemas científicos nesse clássico da sociologia nacional ou se as críticas que leio não passam de má vontade por parte de alguns estudiosos mais interessados em propagar mitos raciais. Como diria a socióloga Cynthia Sarti, Freyre desperta uma “apreensão” no meio das ciências sociais; apreensão, complemento, causada pelo vigoroso painel que expõe das relações sociais, culturais, étnicas e econômicas, impedindo a construção do mito racial inverso àquele que se culpa Freyre. E o ex-presidente, em coro, afirma ser a obra em discussão uma construção mistificadora, adjetivo posto garrido de sofisticações que ainda assim não esconde a dureza da crítica, haja vista a desconexão óbvia, conforme o fragmento exposto, entre a obra e o pensamento dos que sofreram do “mal estar” por ela causado.

A obra de Freyre ainda carece de crítica mais bem fundamentada. Talvez o tempo e a maturação de seu conteúdo entre os estudiosos permitam uma análise menos ideológica e mais racional. Culpá-lo de mistificar as diferentes participações étnicas na formação socioeconômica brasileira, baseando-se apenas num desejo nada científico de criar situações que os fatos históricos não corroboram, é justamente mistificar, num sentido mais preciso. É fato que não tenho pendores de Teseu, mas obrigar Freyre a deitar no leito de Procusto é, no mínimo, uma injustiça intelectual.

Acabou o café. Fechei o livro. Paguei a conta. Fui-me embora. Em casa terei boa leitura garantida e uma discussão solitária a travar com um ex-presidente.

domingo, 22 de abril de 2012

O PhD das cartas não publicadas

Professor escreve livro com artigos que não saíram no GLOBO sobre Afeganistão e até nariz de cantora


O professor José Carlos, que fez livro com todas as cartas não publicadas que enviou ao GLOBO
Foto: Rafael Andrade / O Globo
O professor José Carlos, que fez livro com todas as cartas não publicadas que enviou ao GLOBO Rafael Andrade / O Globo
RIO - Caro editor, tenho opiniões. Logo, existo. E insisto. Foram mais de cem tentativas, sempre muito educadas e com estilo. Hermético. Prosaico. Eclético. Que tal discutir o nariz fino da Negra Li ou as gravatas do rabino Henry Sobel? Ou o que predadores à espreita têm a ver om a violência do Rio? Quiçá a importância da “cor” de Obama? Ou ainda a fórmula $a = p x $s x (t2 - t1)/(T - t2), capaz de resolver de vez o déficit da previdência? O quê? Como?

— Aprendi com o meu pai, e procuro passar para os meus filhos. Você tem o direito de emitir até uma opinião errada, mas não tem o direito de não participar. Um dos maiores engenheiros químicos que existiu não era engenheiro químico, era o matemático Neal Amundson. Adoro filosofia, de descobrir qual o fundamento que está por trás de uma determinada ideia — diz o doutor em engenharia química José Carlos Pinto, diretor-executivo da Coppetec, braço da Coppe, maior centro de pesquisa e ensino de engenharia da América Latina, junto ao mercado.

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador 1A do CNPq (título para pouquíssimos), ele é um dos recordistas da seção Dos Leitores do GLOBO. Em todos os sentidos. Melhor explicar. Escreveu e-mails sobre quase tudo e quase todos, pelo menos duas vezes ao mês, nos últimos anos, desde 2006. Um recorde. Só emplacou dois e-mails. Outro recorde.

De família numerosa — a avó paterna teve nove filhos e a materna quatro, que lhe deram tios e primos além da conta —, o raciocínio de José Carlos foi afiado no furdunço de um prédio no Cachambi onde moravam todos juntos. E, depois, aprimorado na academia. Pai engenheiro, o menino que levou uma vida meio nômade a reboque de obras — morou até na Floresta Amazônica — fez mestrado e doutorado em engenharia química no exterior. No que tudo isso deu: num PhD que foge ao estereótipo do PhD — sem querer reforçar o estereótipo, sem tolices de vaidade, que tem um interesse por quase tudo o que o cerca e defende o direito sagrado de todos a ter opinião e expressá-la.

— Deve ser alguma frustração — brinca. — Minha segunda opção no vestibular foi jornalismo. Dá para acreditar? Não que eu não seja feliz como engenheiro, mas não me esgota. Todo mundo estranhou, por exemplo, a minha tese de doutorado, cheia de exclamações e expressões coloquiais. Ninguém coloca exclamação numa tese de doutorado!

Não falta humor às “cartas” (são e-mails) de José Carlos, que com elas fez o livro “Lendo o jornal na varanda”, da Editora Frutos, com um subtítulo incomum: “Minhas cartas não publicadas em O GLOBO”. Na orelha, uma pequena biografia informando que o autor é do signo de câncer. A coletânea começou com uma tese.

— Eu desenvolvi a teoria de que havia padrões para carta publicáveis e outros para as não publicáveis. As publicáveis são curtas, não tem análise, apenas reverberam uma notícia e quase sempre terminam com uma frase chavão. No escândalo do Cachoeira, diria que todo político é corrupto e terminaria com um “até quando?”. Passei a só mandar cartas não publicáveis. Só duas foram publicadas. Não acho que haja um complô do GLOBO contra o leitor, nada disso. É assim porque é.

Com a palavra, a editora da página Dos Leitores, a jornalista Antonietta Ramos:

— Não há regra ou censura. Mas evitamos usar cartas longas, já que os cortes são inevitáveis, e muitos leitores não concordam. Só não vão para as páginas xingamentos ou agressões a pessoas. Também tentamos dar um espaço entre as publicações de um mesmo leitor, para dar oportunidade a todos — observa ela, que diariamente recebe 250 e-mails.

No livro do professor, há pérolas. Um exemplo foi seu comentário sobre o episódio do rabino Henry Sobel, flagrado furtando gravatas nos EUA em 2007. Ao ouvir alguns defenderem que o caso estava cercado por preconceito contra os judeus, ele lançou mão de uma parábola de futebol, outra paixão, para rebater o argumento. Para ele, era o mesmo que dividir a sociedade entre os que amam o Flamengo e os que detestam, exceto por um terceiro grupo “formado pelos que adoram sacanear vascaíno”.

De polêmica, aliás, nunca fugiu. Adora. Quando uma líder do movimento negro criticou Negra Li por causa de uma cirurgia plástica para afinar o nariz, saiu na defesa da cantora. A tal líder é que era intolerante, na opinião dele, pois não aceitava que um ser humano de pele escura fosse outra coisa que não o ícone de uma causa. “Negra Li tem o direito de botar piercing, de pintar o cabelo, de beber cerveja e até mesmo de afinar o nariz”, dizia a carta. Apreciador do Animal Planet, ele traçou em carta um paralelo entre a ação dos predadores e a violência do Rio. “Somos, todos nós, 99% dessa cidade supostamente maravilhosa, herbívoros à espera dos predadores”.

Ao analisar o rombo da previdência, José Carlos distribui símbolos para inúmeras variáveis e conclui que, “com enorme simplicidade”, uma condição de Justiça para o cidadão seria a fórmula $a = p x $s x (t2 - t1)/(T - t2). Nem tanto, professor. Simples é a moral que se extrai depois da leitura do artigo: não é qualquer jornalista que poderia ter como segunda opção no vestibular a engenharia química.
As cartas são assim, têm erudição, polêmica e fofice. Sim, ao tratar da estupidez da guerra civil palestina, lembra o amigo Isam Jaber, nascido na Jordânia, como ele especialista em polímeros, que conheceu no doutoramento nos EUA, nos anos 90. “Isam era estranhamente estrangeiro em todos os lugares do mundo e, por isso, seu passaporte era expedido pela ONU. Ou seja, por ser palestino, Isam havia sido condenado a vagar pelo mundo sem ter um local onde pudesse simplesmente chegar a estar”.

Fãs não faltam a José Carlos. Como o amigo de infância Marcus Salvador, com quem, muitas vezes, amadurece o discurso antes de levá-lo ao papel:

— É uma pessoa inteligentíssima e desprovida de barreira cultural. Num barzinho, fala de bomba atômica, das Ilhas Malvinas e do cabelo ralo do Roberto Carlos — brinca. — Uma vez, eu tive o desprazer de ir a um restaurante e escrevi uma reclamação para o Programa Furado do Rio Show, que publicou. Claro que liguei para ele, tinha que provocar.

Mestre do jornalismo e apresentador do Observatório da Imprensa, Alberto Dines observa que o “diálogo do leitor com os jornais se intensificou com a universalização do telefone e, agora, com a internet:

— É claro que o leitor tem o direito de se manifestar sobre tudo, mas quem sofreu uma agressão ou teve um direito desrespeitado tem prioridade. Se você enviar muitas cartas ou quiser discorrer sobre a primavera no Afeganistão, tem que entrar na fila — afirma.

As paixões, do Mengão ao jornal, em que se viciou lendo as páginas rosas do finado “Jornal dos Sports”, comprado diariamente pelo avô, falam mais alto. Em 2008, O GLOBO publicou um anúncio dos 200 anos do Banco do Brasil, que simulava uma primeira página do jornal falando de sua importância e história. A primeira página de verdade ficou por baixo, escondida. Uma heresia que não foi perdoada. Toma-lhe carta: “O GLOBO hoje vendeu a alma”.

— Fiquei tiririca.

Casado e pai de três filhos, José Carlos é poeta e compositor. Sonha ter seus versos lidos pelo mestre Zeca Pagodinho ou Maria Gadú. O projeto é para “ontem”. Mesmo dizendo ser um “compositor sofrível”, vai soltar a voz num CD de MPB, com a banda Intervalo.

Caro editor, da próxima vez, publica o professor José Carlos!

http://oglobo.globo.com/rio/o-phd-das-cartas-nao-publicadas-4707861#ixzz1sn9HMtyO
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domingo, 9 de maio de 2010

Araújo Porto-Alegre, o espírita da Corte

Paulo Roberto Viola(*)
Jornal O Globo, 19/11/2009.

Fonte:
http://oglobo.globo.com/blogs/prosa/posts/2009/11/19/araujo-porto-alegre-espirita-da-corte-242668.asp

Na quarta-feira a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) promoveu uma homenagem ao escritor, político e jornalista Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879). Durante o evento foi lançado o livro "Barão de Santo Ângelo — O espírita da Corte" (Editora Lorenz), de Paulo Roberto Viola, que analisa a vida e a obra de Porto-Alegre. Abaixo, um texto do autor sobre o personagem de seu livro.

Gaúcho de Rio Pardo, Manoel José de Araújo Porto-Alegre, que entrou para a História do Brasil como Barão de Santo Ângelo, foi chamado, a seu tempo, de o "homem-tudo", por seu talento multidisciplinar. Além de jornalista emérito, fundador e editor de várias revistas, foi também caricaturista, professor, orador, crítico e historiador de arte, pintor da Corte, arquiteto, diplomata e político. A ele se deve a primeira caricatura brasileira e a difusão do gênero literário romântico, ao lado de Gonçalves Dias e de Gonçalves de Magalhães. De sua autoria é o óleo sobre tela "A Sagração de Dom Pedro II", um clássico da pintura nacional. Foi ele autor de cinco peças teatrais de sucesso, dentre elas a famosa "Noite de São João" (ópera lírica, em 1877). Seu maior talento era a capacidade artística de unir história e arte. Amigo e confidente do Imperador Dom Pedro II, desfrutando também da confiança da Princesa Isabel, homem de origens humildes, tornou-se Barão por decreto imperial por seus relevantes serviços prestados à Coroa.

Em 1888, o crítico de arte Luiz Gonzaga Duque Estrada reproduziu palavras de Porto-Alegre no testamento que deixou, mostrando seu elevado padrão ético e moral: "Nunca amei os homens pela sua posição; nunca adorei o dinheiro, tendo sempre vivido pobremente e nunca tive outra ambição que não fosse a de um nome sem mancha. Sofri pela amizade e pela justiça, porque sempre detestei a deslealdade e o despotismo".

Numa época em que o monarca, o servidor do Estado e os parlamentares eram compelidos pela Constituição de 1824 a jurar fidelidade à Igreja Católica, Porto-Alegre, cônsul do Brasil na Alemanha, cultuava, às escondidas, o espiritismo codificado pelo pedagogo francês Allan Kardec, com quem se relacionou a partir das viagens frequentes que fazia a Paris. Em longa carta ao amigo e escritor Joaquim Manuel de Macedo — integralmente transcrita e comentada no livro — ele confessa sua crença religiosa e filosófica, mas suplica: "quanto à reserva que lhe pedi, concebe o medo que tenho de passar por louco em último grau, pois que já passo em primeiro".

Tal qual o Imperador Dom Pedro II, a quem serviu com fidelidade e, sobretudo, amizade, Porto-Alegre morreu pobre, após uma vida inteira em que sentia na própria carne a constatação do sábio jurista Pontes de Miranda: "glória é solidão", pois segundo a História, seus escritos íntimos acusam uma permanente sensação de isolamento. Talvez ele seja um desses casos flagrantes de quem conheceu grande fama na vida e caiu no esquecimento — escreveu o crítico Jayro Nogueira Luna.

Tendo falecido na Europa em 1879, seus restos mortais somente vieram para o Brasil em 1922, a pedido da Sociedade Brasileira de Belas Artes, tendo esse notável da Monarquia brasileira deixado um precioso legado, não só de valores intelectuais, mas, sobretudo, de valores morais e éticos, com exemplos marcantes, que a República não jamais pode esquecer.

(*)Paulo Roberto Viola é advogado, jornalista e escritor.

domingo, 17 de janeiro de 2010

O maior espetáculo da Terra

Daniel Lopes

Fonte: Blog Index
Dizer que o novo livro de Richard Dawkins é uma resposta aos criacionistas é diminuí-lo. Seria como afirmar que O mundo assombrado pelos demônios (1996), do Sagan, é uma mera resposta àqueles que acreditam em abdução em massa ou em aparições da Virgem Maria.

Não estou certo de que os criacionistas mereçam uma resposta. O que eles merecem, sempre, é uma simples pergunta - “Qual a sua alternativa?” -, para diversão geral da nação. É claro que The greatest show on Earth: The evidence for Evolution se ocupa em desmontar argumentos criacionistas - o que na maioria dos casos equivale a ensinar o bê-a-bá da biologia e rudimentos de geologia, física e química -, mas o principal do livro é o encanto que ele causa no leitor, a cada página. E olha que consigo me impressionar com esse livro (não acabei ainda) imediatamente após encerrar os belos ensaios de A Devil’s Chaplain: Reflections on hope, lies, science and love (2003)!

O que Dawkins faz é nos maravilhar com os encantos da evolução das espécies no silêncio dos milhões de anos; nos mostrar nosso grau de parentesco com todos os seres vivos do planeta; descrever pesquisas que comprovam o fato da evolução e de alterações significativas numa espécie e o surgimento de outras, mesmo dentro do tempo de vida médio de uma pessoa (como as pesquisas de John Endler com peixes que “calculam” a relação custo-benefício entre se camuflar demais e não ser predado, e se destacar de menos e não atrair fêmeas, e que, a partir dos “resultados” e do meio em que estão, dão origem a novos tipos de peixes), mesmo em laboratório (caso do estudo de Richard Lenski e equipe com a evolução bacteriana - clique aqui e leia a respeito).

Um livro para fechar com classe este Ano de Darwin. E que felicidade da Cia. das Letras traduzi-lo e publicá-lo com grande rapidez no Brasil - O maior espetáculo da Terra.

sábado, 2 de maio de 2009

Lançamento do livro "Família de negros"

A Editora E-papers convida a todos para o lançamento do livro


de Sergio Mauricio Costa da Silva Pinto

no próximo dia 9 de maio de 2009, sábado, a partir das 10:00.

Livraria LDM
Rua Direita da Piedade, 20
Piedade - Salvador - BA

Mais informações sobre a obra em
http://www.e-papers.com.br/

Editora E-papers
http://www.e-papers.com.br/
atendimento@e-papers.com.br
telefone (21) 2273-0138 e 2504-5618
fax (21) 2502-6612

sábado, 24 de maio de 2008

Indignado e envergonhado

Vergonha. É a única palavra que me vem em mente sobre este caso tão absurdo. "Isto é uma vergonha", diria o jornalista Boris Casoy. Sinto-me duplamente envergonhado: por ser baiano e por ser espírita (esse último adjetivo cada vez menos adequado...).

O médium Medrado, aquele que lutou na justiça por casamentos e sacerdócio, agora protagoniza outra infeliz batalha e recorre ao instrumento dos covardes: a censura.

O mais interessante é que Kardec rebateu aos seus críticos, foi censurado como no episódio dos seus livros queimados em Barcelona, mas jamais usou desse instrumento contra seus debatedores. A livre manifestação das idéias é valor inestimável e não pode ser conspurcado por um médium à la Dom Quixote que, ao invés de lutar simplesmente expondo suas idéias, mesmo que absurdas, prefere intimidar usando a falácia dos recursos jurídicos.

Não concordo em nada com as idéias do tal padre no seu livro, muito menos (ou talvez menos ainda) com as idéias desse estranho exemplar "espírita" que realiza casamentos, mas certamente reconheço seus direitos inalienáveis de dizer e publicar o que bem entenderem.

É uma pena, ou melhor, uma vergonha, que um exemplo desse naipe esteja associado ao nome espiritismo.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vergonha espírita!


O médium José Medrado apronta mais uma das suas, envergonhando todo o movimento espírita baiano: entrou com ação cautelar na Justiça pedindo a censura (sim, creiam: a censura!) do livro do padre católico Jonas Abib, intitulado Sim, sim! Não, não! Reflexões de cura e libertação.

Diante do inusitado e vergonhoso episódio, cabe aos espíritas os mais sinceros pedidos de desculpas ao padre, que teve sua opinião censurada pela atuação do promotor Almiro Sena, o mesmo que quis mudar a história do Brasil apresentada na novela Sinhá Moça da Rede Globo.

Senhor Jonas Abib, em meu nome, como espírita, peço desculpas pelo devaneio persecutório dum estranho líder religioso, que se diz espírita, mas em nada se alinha às propostas de tolerância e compreensão apresentadas pelo espiritismo. Kardec sofreu perseguição intensa dos movimentos religiosos e filosóficos de sua época, e os espíritas aprenderam, então, o valoroso respeito à liberdade de opinião, mesmo que frontalmente contrárias às propostas espíritas.

E vamos queimar livros

Publicado originalmente no blog Censura não! em 17/05/2008, por rodveleda.http://xocensura.wordpress.com/2008/05/

A queima de livros voltou na Bahia! O Folha de S.Paulo de hoje [17/05] traz uma matéria reportando uma decisão da Justiça Estadual de recolher todos os exemplares do livro Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de cura e libertação, escrito pelo monsenhor Jonas Abib, pois o voluntarioso Ministério Público da Bahia acredita que Abib teria cometido o crime de “prática e incitação de discriminação ou preconceito religioso”. Para o promotor Almiro Sena Soares Filho, o mesmo que processou a Rede Globo por mostrar escravos apanhando na novela Sinhá Moça (algo que não acontecia, de acordo com a Nova e Revisada História do Brasil de Almiro de Sena Soares Fo.), Abib faria:

"Afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto".

De acordo com a promotoria, já teriam sido vendidas 400 mil cópias do livro.

Não é a primeira vez que uma crítica a religiões afro-brasileiras sofre censura na Bahia. O livro Orixás, caboclos e guias: deuses ou demônios? de Edir Macedo também foi censurado pela Polícia do Pensamento, filial Ministério Público Federal.

Pois eu li a liminar do processo contra Jonas Abib (1957502-1/2008), o padre que está tendo um livro queimado graças a uma ação judicial. O juiz Schmitt solta uma afirmação bastante contraditória, ao dizer que

"A proteção a liberdade de consciência e de crença, bem como do livre exercício dos cultos religiosos, encontra-se alçado a nível constitucional, assim como a impossibilidade de alguém ser privado de direitos por motivo de fé ou de ideologia filosófica ou política, consoante encartado nos incisos VI e VII, do artigo 5º, da CF/88".

Como assim? Se é constitucionalmente impossível privar alguém devido a ideologia ou fé, como então o juiz manda

"O imediato recolhimento, em todas as livrarias e bancas de jornal e revistas localizadas nesta Capital, dos exemplares postos a venda da obra Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de cura e libertação, de autoria do acusado e publicada pela Editora Canção Nova".

Ora, para mim isto é impedir uma pessoa de se expressar livremente devido ao conteúdo da mensagem, que nada mais é do que a exteriorização da “fé ou de ideologia filosófica ou política”. Além disso, a liminar contém um outro absurdo:

"O perigo da demora está evidente, uma vez que a disseminação das idéias defendidas pelo acusado deve ser provisoriamente cessada, até que o mérito do caso em tela seja resolvido, como forma de evitar possíveis danos irreparáveis ao patrimônio cultural e à dignidade da pessoa humana (sic), sobretudo daqueles que tem sua matriz religiosa nas religiões atacadas pelo conteúdo do livro em debate. Ademais, o número trazido de vendagem da obra, igualmente, reclama a adoção desta medida, como forma de buscar se evitar um maior acirramento de conflitos étnico-religiosos".

“Maior acirramento de conflitos étnicos-religiosos”? Desde quando o livro estaria causando conflitos étnicos-religiosos? Aliás, desde quando uma religião tem a ver com a etnia de alguém? Salvo melhor juízo, o objetivo de qualquer religião é arregimentar o maior número possível de seres humanos, e não de pessoas humanas (sic) algo que só existe no gabinete de Schmitt, se não toda a humanidade.

Agora, comentários sobre a ação em si. Uma das características da religião é a crença em dogmas, ou seja, verdades absolutas que não podem ser contestadas e que são dadas pelo ente superior de tal religião. Um dos dogmas da Igreja Católica é a crença num único deus. Então, qualquer religião que acredite em mais de uma divindade, como é o caso das tais “religiões afro-brasileiras”, está em desacordo com a verdade absoluta em que os católicos acreditam. Além disso, é importante notar que a Igreja Católica tem outro dogma, o Extra Ecclesiam nulla salus, que diz que não há salvação fora da Igreja Católica, e uma pessoa que não pode ser salva irá para o inferno, e quem manda no inferno é o Dito Cujo.

Ora, se as religiões são baseadas em dogmas, então não há de se falar em discriminação, pois na visão da Igreja Católica, ou mesmo das tais “religiões afro-brasileiras” que o juiz não especifica quais são, qualquer outra religião está em desacordo com a verdade absoluta, assim como qualquer lei que proteja o reconhecimento de tais igrejas, pois aí o Estado estaria patrocinando um ataque ao Bem, ou seja, alinhado-se ao Mal.

Importante notar que a publicização de qualquer pensamento, por mais ofensivo que este pode ser a uma pessoa, não impede a mesma de continuar em sua fé ou ideologia. Existe uma grande diferença em se expressar e impedir alguém de professar sua fé. Desta forma, é perfeitamente legítimo ao padre Abib, ou a qualquer outro sacerdote de outras religiões, fazer críticas aos aspectos ideológicos das outras religiões, para arregimentar mais fiéis para a fé que acredita ser a portadora da verdade absoluta. O que seria bem diferente de o padre Abib estar na frente de uma porta de um local de culto de uma religião qualquer armado com um rifle M-16, ameaçando os fiéis. Aí sim, e somente aí, haveria um crime.

O que esta ação judicial quer, cuja “vítima” é o Centro Espírita Cavaleiros da Luz - Cidade da Luz (como se uma instituição tivesse consciência para poder ser ofendida) e cujo diretor não é novato no uso do Ministério Público para processar interesses católicos, é impedir um ser humano de expressar aquilo que é parte constituinte da sua consciência, impedindo-o de existir, pois uma pessoa que não pode se expressar não existe naquele mundo dos códigos onde ele está inserido.
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