A presença de Angela Davis na UFBA, em Salvador, no dia 25 de julho de 2017, foi uma efeméride ímpar.
Muitas reflexões profundas podem ser feitas a partir de suas provocações intelectualmente brilhantes. Mas uma frase, no meio de tantas outras, motivou essa digressão:
"Não reivindicamos ser incluídas numa sociedade profundamente racista e misógina, que prioriza o lucro em detrimento das pessoas."
Primeiro, o reconhecimento tácito de que o sistema capitalista de organização econômica e social privilegia o lucro. Mas não é apenas a assunção do privilégio do capital sobre o humano, mas em seu detrimento, contra ele. O que ela nos ensina é que entre lucro e humanização há um vácuo, uma dissensão incompatível, um vale intransponível. Ou se está dum lado, ou do outro, não há consenso possível.
Bem, Marx e Engels chamaram essa incompatibilidade de "luta de classes". E essa luta entre lucro e homem é o motor da história.
Angela então nos ensina que a realpolitik praticada pelas esquerdas "sem frescuras" (assim se autodenominam) que assumiram o poder nos últimos 15 anos só poderia mesmo dar no que deu, porque não há "Carta aos brasileiros" que sirva de ponte de travessia nesse abismo entre capital e trabalho.
Lula certamente chamaria Angela Davis de "fresca".
Segundo, a estratégia de não se incluir num sistema que intenta apenas reproduzir as relações de produção. Não, a estratégia correta é transformar o sistema, reformular as relações, revolucionar a participação.
Angela, em suas palavras tão breves em Salvador, martela profundamente nossas mentes anestesiadas pelas falsas promessas de conciliação de classes, de jogos de "ganha-ganha", tão propalados pela miséria da nossa hodierna filosofia "sem frescuras".
Ou seja, a superação dos problemas conexos da sociedade desigual, como o machismo, o racismo, a homofobia, a misoginia etc, dar-se-á pela transformação do sistema de produção, e não pela inserção dos excluídos no processador de moer carne humana a favor do lucro.
A luta não é pela possibilidade de dar às negras a oportunidade de serem também carne a ser triturada pelo lucro, mas de dar às negras o protagonismo político e social de mudar o mundo. Só isso.
E, para encerrar, lembrei-me de trecho da música "Podres poderes", do baiano Caetano:
"Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval"
Mostrando postagens com marcador Salvador. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Salvador. Mostrar todas as postagens
quinta-feira, 27 de julho de 2017
A aula magistral de Angela Davis
Marcadores:
Angela Davis,
Capital,
Capitalismo,
Frescura,
Lucro,
Lula,
Luta de classes,
Movimentos sociais,
Negra,
Negro,
Realpolitik,
Salvador,
Socialismo,
Trabalho,
UFBA
sábado, 6 de fevereiro de 2016
Salvador, plural e diversa
Hoje, eu e a Nega fizemos um percurso diferente na caminhada matinal. Em vez de irmos, como sempre fazemos, ao Iate e depois às Gordinhas da Ondina, fomos até o novo Rio Vermelho para ver as novidades da reforma e da requalificação.
![]() |
Vista aérea do Rio Vermelho |
Tudo muito bacana, tudo muito bonitinho, como sempre parece o início de qualquer intervenção urbanística. Mas não é sobre a beleza do tradicional bairro do Rio Vermelho que quero falar, e sim sobre os detalhes que percebi na caminhada.
A boa impressão: a reforma preservou as diversas esculturas do bairro que fazem referência ao universo do candomblé, como a tradicional "Iemanjá", festejada no bairro sempre no 2 de fevereiro, localizada bem no Largo da Mariquita; o "Cetro da Ancestralidade", do Mestre Didi, com seus 7 metros de altura, agora com mais destaque e beleza; e a "Odoyá", ou mais conhecida como "Espinha de Peixe", que é uma escultura criada pelo artista plástico Ray Vianna também em homenagem à Iemanjá. Ainda há outras referências interessantes desse mundo religioso afrobrasileiro no boêmio bairro soteropolitano.
A caminhada me remeteu à polêmica criada em torno da proposta de lei de uma vereadora evangélica fundamentalista, que pretendia instalar a escultura de uma Bíblia em pleno Dique do Tororó, para afrontar os orixás que embelezam o local. Afora a estupidez insensata da proposta do edil, aprovada na Câmara de Vereadores no dia 25 de novembro de 2015, o prefeito da cidade, conhecido pela alcunha de ACM Neto, manifestou-se contrário ao projeto, apesar de não o ter ainda vetado formalmente.
Mas há esperanças de que essa barbaridade cultural não seja levada adiante, por conta da postura plural que o prefeito tem tido em relação à diversidade religiosa e cultural que caracteriza a soterópolis baiana.
![]() |
Cetro da Ancestralidade, no Rio Vermelho |
E aqui o ponto positivo: sempre digo em conversas que as personagens de novelas e romances são caricaturas, pois há sempre os bons e os maus, e os bons jamais erram e os maus jamais fazem algo merecedor de elogios. Não, as pessoas no mundo real não são assim. Com isso em mente, apesar da minha postura de oposição política à gestão do prefeito, devo reconhecer seu acerto, não pelo embelezamento de partes turísticas da cidade, esquecendo-se dos subúrbios miseráveis, mas pela postura plural e promotora da diversidade.
A promoção da diversidade pôde também ser vista por nós na caminhada quando passamos por um órgão da prefeitura singular: o Centro de Referência LGBT, situado no Rio Vermelho. O órgão é gerido pela SEMUR (Secretaria Municipal da Reparação), que atua com programas para superação de diferenças de gênero e étnicas na cidade.
Gol do Netinho! Por preservar a cultura ancestral do povo africano na Bahia, lutando contra os fanáticos fundamentalistas evangélicos, e por legitimar as muitas diferenças humanas por meio de órgão específico de promoção da igualdade, porque somos todos humanos, independente de crença, etnia, sexo, orientação sexual, posição política e nacionalidade.
E Salvador, que sempre foi plural e diversa, não merece que sua liberdade seja solapada por intransigentes e intolerantes teocratas.
Marcadores:
ACM Neto,
Afro,
Arte,
Bahia,
Candomblé,
Cetro da Ancestralidade,
Discriminação,
Estátua,
Iemanjá,
Intolerância,
LGBT,
Negro,
Obra,
Odoyá,
Prefeitura,
Religião,
Requalificação,
Rio Vermelho,
Salvador,
SEMUR
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
13 anos de luz
Hoje faz 13 anos que meia dúzia de jovens (alguns nem
tanto...) abnegados e cheios de ideais foram pela primeira vez, numa noite chuvosa
de terça-feira, às ruas de Salvador para distribuir alimentos a moradores de
rua: era 28 de agosto de 2001. Com o passar dos anos, esse grupo cresceu e
muitos outros se incorporaram àquela nobre tarefa de alimentar desamparados, que
se estendeu por todas as noites das terças-feiras por longos 8 anos. Foram
momentos de muito aprendizado e crescimento. De muita doação pessoal de todos,
de muito trabalho e de muito amor no que se fazia. Entregávamos na rua sopa,
mingau, café, pão e água. E em muitos momentos acrescemos roupas, cobertores e
atendimentos médico-odontológicos, propiciados pelos amigos da área de saúde.
E a caravana de carros saía na noite de terça-feira pelas
ruas mal iluminadas de Salvador, por bairros e regiões algumas vezes perigosas,
mas sempre confiante naquilo que se propunha a realizar. Sim, corremos alguns
perigos, mas durante esses 8 anos nada aconteceu com qualquer membro da
caravana.
A quantidade de material distribuído pelas ruas
soteropolitanas cresceu e precisamos encontrar um local para organizar as
tarefas e preparar os alimentos. Assim, diante da necessidade e com a
colaboração de todos, conseguimos um local para o trabalho.
Com o conhecimento que passamos a ter das pessoas de rua,
mantivemos contatos com suas famílias e estendemos o trabalho social ainda
mais, entregando cestas básicas mensais a todas as famílias que conhecemos.
Trabalho que era feito num sábado por mês, pela manhã, na sede do grupo, que
incluía palestras de apoio social sobre saúde, higiene, direitos etc.
Os anos se passaram, e a dinâmica da vida nos levou para
lugares e tarefas distintas. É o processo normal da vida social. O trabalho, em
algum momento, teve de acabar. Conseguimos ajudar muita gente. Mas nos ajudamos
ainda mais, pois todos saímos dessa etapa de nossas vidas um pouco mais
humildes, mais autênticos e mais tolerantes com o outro.
Nesse dia de recordações doces que me vêm à memória, quero
agradecer a todos os amigos que cultivei durante esse trabalho social: vocês,
irmãos, são também responsáveis pelo que hoje sou. Aos atendidos, agradeço
profundamente a oportunidade que me deram de me conhecer melhor e de ser também
uma pessoa um pouco melhor, pois suas dor e dificuldade me fizeram compreender mais
a realidade em que vivemos.
Hoje eu queria, em agradecimento, comemorar com todos. Mas
aqui, na solidão do Planalto Central, eu apenas lembro e fico a rir sozinho
daquelas terças-feiras maravilhosas!
domingo, 7 de abril de 2013
Reflexões em torno de uma latinha de refrigerante
Hoje, ao pedir uma Coca Zero, chegou-me uma com o nome da cidade onde vivo há muitos anos: "Quanto mais Salvador, melhor". Não é minha cidade natal, mas aprendi a viver e a gostar dessa terra.
Mas fiquei a pensar: será que concordo com essa frase da propaganda?
Não, não concordo!
Salvador é uma das cidades mais violentas do Brasil e do mundo. Seus problemas de infraestrutura parecem sobrepujar aos de outras capitais de porte semelhante. A educação média do seu povo, à revelia da propaganda turística que quer divulgar o contrário, é péssima. A sujeira em vias públicas é regra. E poderia continuar a enumerar os muitos outros gravíssimos problemas dessa grande cidade, mas já bastam para ilustrar o objetivo.
Não, não sinto orgulho de ser soteropolitano (no sentido de residente e não de nascimento), não sinto orgulho de ser baiano, nordestino ou brasileiro. Aliás, não sinto orgulho de nada que não tenha sido escolha pessoal.
Não sou nacionalista, não empunho bandeiras que delimitam territórios e que me impõem fronteiras. Não canto hinos com lágrimas nos olhos e não vejo como um valor em si o fato de ter cidadania dum país ou outro qualquer.
Sou um cidadão do mundo!
Entendi, naquela lata à minha frente, que o que me faz gostar de Salvador, ou da Bahia, ou do Brasil, não é o local em si, não é o fato de ter nascido aqui ou acolá, mas pelas pessoas que compartilham esse espaço geográfico comigo.
Sim, as pessoas! Elas são importantes!
Seria feliz com elas em qualquer lugar, já que consigo ser feliz aqui, numa cidade tão cheia de deficiências e problemas graves.
Mas fiquei a pensar: será que concordo com essa frase da propaganda?
Não, não concordo!
Salvador é uma das cidades mais violentas do Brasil e do mundo. Seus problemas de infraestrutura parecem sobrepujar aos de outras capitais de porte semelhante. A educação média do seu povo, à revelia da propaganda turística que quer divulgar o contrário, é péssima. A sujeira em vias públicas é regra. E poderia continuar a enumerar os muitos outros gravíssimos problemas dessa grande cidade, mas já bastam para ilustrar o objetivo.
Não, não sinto orgulho de ser soteropolitano (no sentido de residente e não de nascimento), não sinto orgulho de ser baiano, nordestino ou brasileiro. Aliás, não sinto orgulho de nada que não tenha sido escolha pessoal.
Não sou nacionalista, não empunho bandeiras que delimitam territórios e que me impõem fronteiras. Não canto hinos com lágrimas nos olhos e não vejo como um valor em si o fato de ter cidadania dum país ou outro qualquer.
Sou um cidadão do mundo!
Entendi, naquela lata à minha frente, que o que me faz gostar de Salvador, ou da Bahia, ou do Brasil, não é o local em si, não é o fato de ter nascido aqui ou acolá, mas pelas pessoas que compartilham esse espaço geográfico comigo.
Sim, as pessoas! Elas são importantes!
Seria feliz com elas em qualquer lugar, já que consigo ser feliz aqui, numa cidade tão cheia de deficiências e problemas graves.
Mas acho que seria ainda mais feliz com elas se estivesse numa cidade onde o respeito, a educação e a civilidade fossem valores mais importantes do que as cores de uma bandeira qualquer...
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
Os Mijões
Vídeo que mostra a falta de educação do povo baiano durante o carnaval. Muitos homens e mulheres mijam nas ruas, em frente aos prédios residenciais, sem nenhum constrangimento.
As cenas foram gravadas durante o carnaval de Salvador, na Ondina, em 2012. Impressiona o fato de as autoridades soteropolitanas não tomarem nenhuma providência.
O vídeo é acessado através do +Vimeo, porque o +Youtube resolveu censurá-lo inescrupulosamente.
Marcadores:
Barra,
Carnaval,
Educação,
Elétrico,
Governo,
Mijão,
Mijões,
Ondina,
Polícia,
Prefeitura,
Salvador,
Sujeira,
Trio,
Vimeo
Salvador, BA, Brasil
Salvador - BA, República Federativa do Brasil
sábado, 20 de outubro de 2012
Carlismo na Bahia nunca mais!
Foram
30 anos (você leu certo: 30 anos!) de carlismo na Bahia. O resultado:
Salvador é a capital mais miserável dentre as grandes capitais
nacionais. A pior educação, o pior sistema de saúde, a pior estrutura
urbana, o maior desemprego, uma das mais violentas e por aí vai...
Votar no PT, que provou também não ter escrúpulos quando o negócio é o poder, é complicado.
A opção natural seria o voto nulo, mas fica uma dúvida procustiana,
tentando encaixar o real ao meu modo de ver as coisas: qual o menos pior
para essa cidade tão miserável? Bem, de uma coisa eu tenho certeza,
quem viveu a época da ditadura em terras baianas, jamais votaria no
carlismo. Esse lixo político, nunca mais!
Mas ontem, 19/10/2012, dirão alguns
mais afoitos, a pesquisa de intenção de voto apontou vitória do
carlismo. Como diria Gregório de Matos, o Boca do Inferno, tão belamente
musicado por Caetano: "triste Bahia"...
domingo, 16 de maio de 2010
Para salvar a Fonte Nova
POSICIONAMENTO DAS ENTIDADES CONTRA A DEMOLIÇÃO TOTAL E PELA REQUALIFICAÇÃO DO COMPLEXO ESPORTIVO DA FONTE NOVA
As Entidades abaixo assinadas manifestam-se, publicamente, contrárias à proposta de demolição integral do Complexo Esportivo da Fonte Nova, em favor de sua requalificação em função dos aspectos culturais, ligados ao seu valor arquitetônico, à sua integração paisagística com o conjunto tombado nacionalmente do Dique do Tororó, pelas razões a seguir expostas:
1 – A estrutura principal (os 88 pórticos do anel superior, toda a estrutura do anel inferior e as respectivas fundações) atualmente existente do estádio é perfeitamente aproveitável, como afirmou o especialista em estruturas Engenheiro Civil João Leite no 1º Debate da Copa 2014, realizado no CREA-BA em 2009. A execução de novas fundações terá um alto custo, visto que a Fonte Nova está apoiada, em boa parte, em área embrejada. Até a presente data, apesar da solicitação do CREA-BA, a empresa responsável pelo projeto não apresentou laudo técnico, com a respectiva Anotação de responsabilidade Técnica (ART) comprovando a necessidade da demolição da estrutura vertical (pilares);
2 – Não cabe a eliminação sumária de um complexo olímpico e substituí-lo por uma arena de futebol justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar, pela primeira vez, os Jogos Olímpicos, especialmente se considerarmos a possibilidade de Salvador servir de subsede para algumas modalidades dos Jogos;
3 – Até o momento não está claro como se dará a demolição e a posterior retirada das milhares de toneladas de escombros resultantes da demolição proposta, considerando a localização central do Complexo Esportivo e seu entorno constituído de imóveis tombados. Tampouco está claro qual o destino que será dado a este entulho, cujo impacto ambiental sequer foi dimensionado;
4 – Ao contrário do que vem sendo divulgado, não é exigência da FIFA a retirada da pista de atletismo, o que levaria a modificar a seção das arquibancadas e acarretaria a necessidade de demolição total. Se tal fato fosse verdadeiro, o Estádio Olímpico de Berlim, reformado para atender às normas da FIFA na Copa de 2006, não preservaria até hoje sua pista de atletismo;
5 – Também ao contrário do que vem sendo divulgado, não é exigência da FIFA, mas sim uma recomendação, a cobertura total das arquibancadas. Entretanto, é desejável atendê-la numa cidade com muito sol e dois mil milímetros de precipitações anuais, o que poderá ser executado na atual estrutura com soluções técnicas mais econômicas e sustentáveis;
6 – Estas e outras questões já foram apresentadas aos gestores públicos (no caso, a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia), durante o período destinado à consulta pública, pelo CREA-BA e outras entidades, e nenhuma delas foram atendidas.
Diante do exposto, defendemos que o Governo do Estado da Bahia deve optar pela preservação do Complexo Esportivo da Fonte Nova e pela sua adaptação às exigências da FIFA, pois a manutenção da estrutura representará uma redução significativa do prazo de execução e uma economia de mais de duzentos milhões de reais. Neste sentido, as Entidades signatárias do presente apresentam as seguintes propostas:
1. Suspender os trabalhos de demolição e iniciar os preparativos para uma reformulação da intervenção. Para tanto, pode-se negociar com as empresas contratadas para a retomada das obras após a elaboração de novo projeto, que deverá ser mais econômico e mais respeitoso com o meio ambiente, a cultura e a memória da cidade. O tempo investido na adequação do projeto será amplamente compensado com a redução do prazo de execução da obra em geral.
2. Recuperar as estruturas físicas do complexo olímpico como um todo. Sabe-se que a sua estrutura principal, que é o estádio existente, é perfeitamente recuperável e reaproveitável a baixo custo. A geometria das arquibancadas permite perfeita visibilidade do terreno de jogo e este poderá ser rebaixado ou elevado sem grandes custos, conforme tem sido afirmado reiteradamente por vários profissionais durante eventos públicos, a exemplo do seminário feito no CREA-BA para subsidiar a consulta pública em setembro de 2009.
3. Reabilitar todas as suas funções de equipamento multiuso do complexo olímpico. Único complexo existente no Estado para servir a uma gama maior de modalidades esportivas, cumprindo melhor a função social dos recursos públicos investidos, justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e devemos ter uma demanda ampliada por instalações para a formação de atletas.
4. Respeitar o tombamento determinado pelo Processo 464-T-1952, item 9º. da ata de tombamento do Conselho Nacional do IPHAN de 12.05.1959. Que tombou 9 conjuntos arquitetônicos e urbanísticos da cidade de Salvador e entre estes o “Dique, com os limites atuais de suas águas, compreendendo os conjuntos urbanísticos e florestais dos vales que o circundam”. Em 1959 já estava construída a Vila Olímpica da Bahia na Fonte Nova desde 1952 e esta se encontra dentro dos limites do BEM TOMBADO e passa assim a integrá-lo.
5. Rever o calendário com a CBF e a FIFA: em função da mudança de cronograma, considerando que os prazos serão compensados, visto que haveria redução com a onerosa e demorada etapa de demolição e, do que é mais importante, do prazo geral de execução.
Reconhece-se que implementar as propostas aqui elencadas não se constitui em tarefa fácil, por exigir uma profunda mudança de rumo. Porém ainda há tempo e, certamente, a população baiana saberá reconhecer esse gesto do Governo do Estado em favor do cuidado com a coisa pública, especialmente avaliando o quanto do orçamento do Estado se vai comprometer para esta e para as gestões futuras e sobretudo o quanto de retorno social será garantido pelos recursos aplicados.
Salvador, 11 de maio de 2010.
ABENC – Associação Brasileira ; ANEAC; IAB/BA; CREA-BA, CEB; Fórum A Cidade Também é Nossa; IBAPE; Movimento Vozes de Salvador, SENGE; SINARQ; GAMBÁ; UMP/BA; FABS - Federação das Associações de Bairros de Salvador; FAMEB – Federação das Associações de Moradores do Estado da Bahia; CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores. GERMEM – Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental; Faculdade de Arquitetura da UFBA; Escola Politécnica da UFBA.
As Entidades abaixo assinadas manifestam-se, publicamente, contrárias à proposta de demolição integral do Complexo Esportivo da Fonte Nova, em favor de sua requalificação em função dos aspectos culturais, ligados ao seu valor arquitetônico, à sua integração paisagística com o conjunto tombado nacionalmente do Dique do Tororó, pelas razões a seguir expostas:
1 – A estrutura principal (os 88 pórticos do anel superior, toda a estrutura do anel inferior e as respectivas fundações) atualmente existente do estádio é perfeitamente aproveitável, como afirmou o especialista em estruturas Engenheiro Civil João Leite no 1º Debate da Copa 2014, realizado no CREA-BA em 2009. A execução de novas fundações terá um alto custo, visto que a Fonte Nova está apoiada, em boa parte, em área embrejada. Até a presente data, apesar da solicitação do CREA-BA, a empresa responsável pelo projeto não apresentou laudo técnico, com a respectiva Anotação de responsabilidade Técnica (ART) comprovando a necessidade da demolição da estrutura vertical (pilares);
2 – Não cabe a eliminação sumária de um complexo olímpico e substituí-lo por uma arena de futebol justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar, pela primeira vez, os Jogos Olímpicos, especialmente se considerarmos a possibilidade de Salvador servir de subsede para algumas modalidades dos Jogos;
3 – Até o momento não está claro como se dará a demolição e a posterior retirada das milhares de toneladas de escombros resultantes da demolição proposta, considerando a localização central do Complexo Esportivo e seu entorno constituído de imóveis tombados. Tampouco está claro qual o destino que será dado a este entulho, cujo impacto ambiental sequer foi dimensionado;
4 – Ao contrário do que vem sendo divulgado, não é exigência da FIFA a retirada da pista de atletismo, o que levaria a modificar a seção das arquibancadas e acarretaria a necessidade de demolição total. Se tal fato fosse verdadeiro, o Estádio Olímpico de Berlim, reformado para atender às normas da FIFA na Copa de 2006, não preservaria até hoje sua pista de atletismo;
5 – Também ao contrário do que vem sendo divulgado, não é exigência da FIFA, mas sim uma recomendação, a cobertura total das arquibancadas. Entretanto, é desejável atendê-la numa cidade com muito sol e dois mil milímetros de precipitações anuais, o que poderá ser executado na atual estrutura com soluções técnicas mais econômicas e sustentáveis;
6 – Estas e outras questões já foram apresentadas aos gestores públicos (no caso, a Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia), durante o período destinado à consulta pública, pelo CREA-BA e outras entidades, e nenhuma delas foram atendidas.
Diante do exposto, defendemos que o Governo do Estado da Bahia deve optar pela preservação do Complexo Esportivo da Fonte Nova e pela sua adaptação às exigências da FIFA, pois a manutenção da estrutura representará uma redução significativa do prazo de execução e uma economia de mais de duzentos milhões de reais. Neste sentido, as Entidades signatárias do presente apresentam as seguintes propostas:
1. Suspender os trabalhos de demolição e iniciar os preparativos para uma reformulação da intervenção. Para tanto, pode-se negociar com as empresas contratadas para a retomada das obras após a elaboração de novo projeto, que deverá ser mais econômico e mais respeitoso com o meio ambiente, a cultura e a memória da cidade. O tempo investido na adequação do projeto será amplamente compensado com a redução do prazo de execução da obra em geral.
2. Recuperar as estruturas físicas do complexo olímpico como um todo. Sabe-se que a sua estrutura principal, que é o estádio existente, é perfeitamente recuperável e reaproveitável a baixo custo. A geometria das arquibancadas permite perfeita visibilidade do terreno de jogo e este poderá ser rebaixado ou elevado sem grandes custos, conforme tem sido afirmado reiteradamente por vários profissionais durante eventos públicos, a exemplo do seminário feito no CREA-BA para subsidiar a consulta pública em setembro de 2009.
3. Reabilitar todas as suas funções de equipamento multiuso do complexo olímpico. Único complexo existente no Estado para servir a uma gama maior de modalidades esportivas, cumprindo melhor a função social dos recursos públicos investidos, justamente no momento em que o Brasil se prepara para sediar as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro e devemos ter uma demanda ampliada por instalações para a formação de atletas.
4. Respeitar o tombamento determinado pelo Processo 464-T-1952, item 9º. da ata de tombamento do Conselho Nacional do IPHAN de 12.05.1959. Que tombou 9 conjuntos arquitetônicos e urbanísticos da cidade de Salvador e entre estes o “Dique, com os limites atuais de suas águas, compreendendo os conjuntos urbanísticos e florestais dos vales que o circundam”. Em 1959 já estava construída a Vila Olímpica da Bahia na Fonte Nova desde 1952 e esta se encontra dentro dos limites do BEM TOMBADO e passa assim a integrá-lo.
5. Rever o calendário com a CBF e a FIFA: em função da mudança de cronograma, considerando que os prazos serão compensados, visto que haveria redução com a onerosa e demorada etapa de demolição e, do que é mais importante, do prazo geral de execução.
Reconhece-se que implementar as propostas aqui elencadas não se constitui em tarefa fácil, por exigir uma profunda mudança de rumo. Porém ainda há tempo e, certamente, a população baiana saberá reconhecer esse gesto do Governo do Estado em favor do cuidado com a coisa pública, especialmente avaliando o quanto do orçamento do Estado se vai comprometer para esta e para as gestões futuras e sobretudo o quanto de retorno social será garantido pelos recursos aplicados.
Salvador, 11 de maio de 2010.
ABENC – Associação Brasileira ; ANEAC; IAB/BA; CREA-BA, CEB; Fórum A Cidade Também é Nossa; IBAPE; Movimento Vozes de Salvador, SENGE; SINARQ; GAMBÁ; UMP/BA; FABS - Federação das Associações de Bairros de Salvador; FAMEB – Federação das Associações de Moradores do Estado da Bahia; CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores. GERMEM – Grupo de Defesa e Promoção Socioambiental; Faculdade de Arquitetura da UFBA; Escola Politécnica da UFBA.
Assinar:
Postagens (Atom)