A falta de seriedade no trato científico faz o espiritismo tornar-se um arremedo de conhecimento, uma tolice inominável. E isso é uma pena...
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sábado, 21 de setembro de 2013
Um exemplo da "ciência espírita"
A falta de seriedade no trato científico faz o espiritismo tornar-se um arremedo de conhecimento, uma tolice inominável. E isso é uma pena...
sábado, 13 de outubro de 2012
domingo, 22 de abril de 2012
O PhD das cartas não publicadas
Professor escreve livro com artigos que não saíram no GLOBO sobre Afeganistão e até nariz de cantora
RIO - Caro editor, tenho opiniões. Logo, existo. E insisto. Foram
mais de cem tentativas, sempre muito educadas e com estilo. Hermético.
Prosaico. Eclético. Que tal discutir o nariz fino da Negra Li ou as
gravatas do rabino Henry Sobel? Ou o que predadores à espreita têm a ver
om a violência do Rio? Quiçá a importância da “cor” de Obama? Ou ainda a
fórmula $a = p x $s x (t2 - t1)/(T - t2), capaz de resolver de vez o
déficit da previdência? O quê? Como?
— Aprendi com o meu pai, e procuro passar para os meus filhos. Você tem o direito de emitir até uma opinião errada, mas não tem o direito de não participar. Um dos maiores engenheiros químicos que existiu não era engenheiro químico, era o matemático Neal Amundson. Adoro filosofia, de descobrir qual o fundamento que está por trás de uma determinada ideia — diz o doutor em engenharia química José Carlos Pinto, diretor-executivo da Coppetec, braço da Coppe, maior centro de pesquisa e ensino de engenharia da América Latina, junto ao mercado.
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador 1A do CNPq (título para pouquíssimos), ele é um dos recordistas da seção Dos Leitores do GLOBO. Em todos os sentidos. Melhor explicar. Escreveu e-mails sobre quase tudo e quase todos, pelo menos duas vezes ao mês, nos últimos anos, desde 2006. Um recorde. Só emplacou dois e-mails. Outro recorde.
De família numerosa — a avó paterna teve nove filhos e a materna quatro, que lhe deram tios e primos além da conta —, o raciocínio de José Carlos foi afiado no furdunço de um prédio no Cachambi onde moravam todos juntos. E, depois, aprimorado na academia. Pai engenheiro, o menino que levou uma vida meio nômade a reboque de obras — morou até na Floresta Amazônica — fez mestrado e doutorado em engenharia química no exterior. No que tudo isso deu: num PhD que foge ao estereótipo do PhD — sem querer reforçar o estereótipo, sem tolices de vaidade, que tem um interesse por quase tudo o que o cerca e defende o direito sagrado de todos a ter opinião e expressá-la.
— Deve ser alguma frustração — brinca. — Minha segunda opção no vestibular foi jornalismo. Dá para acreditar? Não que eu não seja feliz como engenheiro, mas não me esgota. Todo mundo estranhou, por exemplo, a minha tese de doutorado, cheia de exclamações e expressões coloquiais. Ninguém coloca exclamação numa tese de doutorado!
Não falta humor às “cartas” (são e-mails) de José Carlos, que com elas fez o livro “Lendo o jornal na varanda”, da Editora Frutos, com um subtítulo incomum: “Minhas cartas não publicadas em O GLOBO”. Na orelha, uma pequena biografia informando que o autor é do signo de câncer. A coletânea começou com uma tese.
— Eu desenvolvi a teoria de que havia padrões para carta publicáveis e outros para as não publicáveis. As publicáveis são curtas, não tem análise, apenas reverberam uma notícia e quase sempre terminam com uma frase chavão. No escândalo do Cachoeira, diria que todo político é corrupto e terminaria com um “até quando?”. Passei a só mandar cartas não publicáveis. Só duas foram publicadas. Não acho que haja um complô do GLOBO contra o leitor, nada disso. É assim porque é.
Com a palavra, a editora da página Dos Leitores, a jornalista Antonietta Ramos:
— Não há regra ou censura. Mas evitamos usar cartas longas, já que os cortes são inevitáveis, e muitos leitores não concordam. Só não vão para as páginas xingamentos ou agressões a pessoas. Também tentamos dar um espaço entre as publicações de um mesmo leitor, para dar oportunidade a todos — observa ela, que diariamente recebe 250 e-mails.
No livro do professor, há pérolas. Um exemplo foi seu comentário sobre o episódio do rabino Henry Sobel, flagrado furtando gravatas nos EUA em 2007. Ao ouvir alguns defenderem que o caso estava cercado por preconceito contra os judeus, ele lançou mão de uma parábola de futebol, outra paixão, para rebater o argumento. Para ele, era o mesmo que dividir a sociedade entre os que amam o Flamengo e os que detestam, exceto por um terceiro grupo “formado pelos que adoram sacanear vascaíno”.
De polêmica, aliás, nunca fugiu. Adora. Quando uma líder do movimento negro criticou Negra Li por causa de uma cirurgia plástica para afinar o nariz, saiu na defesa da cantora. A tal líder é que era intolerante, na opinião dele, pois não aceitava que um ser humano de pele escura fosse outra coisa que não o ícone de uma causa. “Negra Li tem o direito de botar piercing, de pintar o cabelo, de beber cerveja e até mesmo de afinar o nariz”, dizia a carta. Apreciador do Animal Planet, ele traçou em carta um paralelo entre a ação dos predadores e a violência do Rio. “Somos, todos nós, 99% dessa cidade supostamente maravilhosa, herbívoros à espera dos predadores”.
Ao analisar o rombo da previdência, José Carlos distribui símbolos para inúmeras variáveis e conclui que, “com enorme simplicidade”, uma condição de Justiça para o cidadão seria a fórmula $a = p x $s x (t2 - t1)/(T - t2). Nem tanto, professor. Simples é a moral que se extrai depois da leitura do artigo: não é qualquer jornalista que poderia ter como segunda opção no vestibular a engenharia química.
As cartas são assim, têm erudição, polêmica e fofice. Sim, ao tratar da estupidez da guerra civil palestina, lembra o amigo Isam Jaber, nascido na Jordânia, como ele especialista em polímeros, que conheceu no doutoramento nos EUA, nos anos 90. “Isam era estranhamente estrangeiro em todos os lugares do mundo e, por isso, seu passaporte era expedido pela ONU. Ou seja, por ser palestino, Isam havia sido condenado a vagar pelo mundo sem ter um local onde pudesse simplesmente chegar a estar”.
Fãs não faltam a José Carlos. Como o amigo de infância Marcus Salvador, com quem, muitas vezes, amadurece o discurso antes de levá-lo ao papel:
— É uma pessoa inteligentíssima e desprovida de barreira cultural. Num barzinho, fala de bomba atômica, das Ilhas Malvinas e do cabelo ralo do Roberto Carlos — brinca. — Uma vez, eu tive o desprazer de ir a um restaurante e escrevi uma reclamação para o Programa Furado do Rio Show, que publicou. Claro que liguei para ele, tinha que provocar.
Mestre do jornalismo e apresentador do Observatório da Imprensa, Alberto Dines observa que o “diálogo do leitor com os jornais se intensificou com a universalização do telefone e, agora, com a internet:
— É claro que o leitor tem o direito de se manifestar sobre tudo, mas quem sofreu uma agressão ou teve um direito desrespeitado tem prioridade. Se você enviar muitas cartas ou quiser discorrer sobre a primavera no Afeganistão, tem que entrar na fila — afirma.
As paixões, do Mengão ao jornal, em que se viciou lendo as páginas rosas do finado “Jornal dos Sports”, comprado diariamente pelo avô, falam mais alto. Em 2008, O GLOBO publicou um anúncio dos 200 anos do Banco do Brasil, que simulava uma primeira página do jornal falando de sua importância e história. A primeira página de verdade ficou por baixo, escondida. Uma heresia que não foi perdoada. Toma-lhe carta: “O GLOBO hoje vendeu a alma”.
— Fiquei tiririca.
Casado e pai de três filhos, José Carlos é poeta e compositor. Sonha ter seus versos lidos pelo mestre Zeca Pagodinho ou Maria Gadú. O projeto é para “ontem”. Mesmo dizendo ser um “compositor sofrível”, vai soltar a voz num CD de MPB, com a banda Intervalo.
Caro editor, da próxima vez, publica o professor José Carlos!
— Aprendi com o meu pai, e procuro passar para os meus filhos. Você tem o direito de emitir até uma opinião errada, mas não tem o direito de não participar. Um dos maiores engenheiros químicos que existiu não era engenheiro químico, era o matemático Neal Amundson. Adoro filosofia, de descobrir qual o fundamento que está por trás de uma determinada ideia — diz o doutor em engenharia química José Carlos Pinto, diretor-executivo da Coppetec, braço da Coppe, maior centro de pesquisa e ensino de engenharia da América Latina, junto ao mercado.
Membro titular da Academia Brasileira de Ciências e pesquisador 1A do CNPq (título para pouquíssimos), ele é um dos recordistas da seção Dos Leitores do GLOBO. Em todos os sentidos. Melhor explicar. Escreveu e-mails sobre quase tudo e quase todos, pelo menos duas vezes ao mês, nos últimos anos, desde 2006. Um recorde. Só emplacou dois e-mails. Outro recorde.
De família numerosa — a avó paterna teve nove filhos e a materna quatro, que lhe deram tios e primos além da conta —, o raciocínio de José Carlos foi afiado no furdunço de um prédio no Cachambi onde moravam todos juntos. E, depois, aprimorado na academia. Pai engenheiro, o menino que levou uma vida meio nômade a reboque de obras — morou até na Floresta Amazônica — fez mestrado e doutorado em engenharia química no exterior. No que tudo isso deu: num PhD que foge ao estereótipo do PhD — sem querer reforçar o estereótipo, sem tolices de vaidade, que tem um interesse por quase tudo o que o cerca e defende o direito sagrado de todos a ter opinião e expressá-la.
— Deve ser alguma frustração — brinca. — Minha segunda opção no vestibular foi jornalismo. Dá para acreditar? Não que eu não seja feliz como engenheiro, mas não me esgota. Todo mundo estranhou, por exemplo, a minha tese de doutorado, cheia de exclamações e expressões coloquiais. Ninguém coloca exclamação numa tese de doutorado!
Não falta humor às “cartas” (são e-mails) de José Carlos, que com elas fez o livro “Lendo o jornal na varanda”, da Editora Frutos, com um subtítulo incomum: “Minhas cartas não publicadas em O GLOBO”. Na orelha, uma pequena biografia informando que o autor é do signo de câncer. A coletânea começou com uma tese.
— Eu desenvolvi a teoria de que havia padrões para carta publicáveis e outros para as não publicáveis. As publicáveis são curtas, não tem análise, apenas reverberam uma notícia e quase sempre terminam com uma frase chavão. No escândalo do Cachoeira, diria que todo político é corrupto e terminaria com um “até quando?”. Passei a só mandar cartas não publicáveis. Só duas foram publicadas. Não acho que haja um complô do GLOBO contra o leitor, nada disso. É assim porque é.
Com a palavra, a editora da página Dos Leitores, a jornalista Antonietta Ramos:
— Não há regra ou censura. Mas evitamos usar cartas longas, já que os cortes são inevitáveis, e muitos leitores não concordam. Só não vão para as páginas xingamentos ou agressões a pessoas. Também tentamos dar um espaço entre as publicações de um mesmo leitor, para dar oportunidade a todos — observa ela, que diariamente recebe 250 e-mails.
No livro do professor, há pérolas. Um exemplo foi seu comentário sobre o episódio do rabino Henry Sobel, flagrado furtando gravatas nos EUA em 2007. Ao ouvir alguns defenderem que o caso estava cercado por preconceito contra os judeus, ele lançou mão de uma parábola de futebol, outra paixão, para rebater o argumento. Para ele, era o mesmo que dividir a sociedade entre os que amam o Flamengo e os que detestam, exceto por um terceiro grupo “formado pelos que adoram sacanear vascaíno”.
De polêmica, aliás, nunca fugiu. Adora. Quando uma líder do movimento negro criticou Negra Li por causa de uma cirurgia plástica para afinar o nariz, saiu na defesa da cantora. A tal líder é que era intolerante, na opinião dele, pois não aceitava que um ser humano de pele escura fosse outra coisa que não o ícone de uma causa. “Negra Li tem o direito de botar piercing, de pintar o cabelo, de beber cerveja e até mesmo de afinar o nariz”, dizia a carta. Apreciador do Animal Planet, ele traçou em carta um paralelo entre a ação dos predadores e a violência do Rio. “Somos, todos nós, 99% dessa cidade supostamente maravilhosa, herbívoros à espera dos predadores”.
Ao analisar o rombo da previdência, José Carlos distribui símbolos para inúmeras variáveis e conclui que, “com enorme simplicidade”, uma condição de Justiça para o cidadão seria a fórmula $a = p x $s x (t2 - t1)/(T - t2). Nem tanto, professor. Simples é a moral que se extrai depois da leitura do artigo: não é qualquer jornalista que poderia ter como segunda opção no vestibular a engenharia química.
As cartas são assim, têm erudição, polêmica e fofice. Sim, ao tratar da estupidez da guerra civil palestina, lembra o amigo Isam Jaber, nascido na Jordânia, como ele especialista em polímeros, que conheceu no doutoramento nos EUA, nos anos 90. “Isam era estranhamente estrangeiro em todos os lugares do mundo e, por isso, seu passaporte era expedido pela ONU. Ou seja, por ser palestino, Isam havia sido condenado a vagar pelo mundo sem ter um local onde pudesse simplesmente chegar a estar”.
Fãs não faltam a José Carlos. Como o amigo de infância Marcus Salvador, com quem, muitas vezes, amadurece o discurso antes de levá-lo ao papel:
— É uma pessoa inteligentíssima e desprovida de barreira cultural. Num barzinho, fala de bomba atômica, das Ilhas Malvinas e do cabelo ralo do Roberto Carlos — brinca. — Uma vez, eu tive o desprazer de ir a um restaurante e escrevi uma reclamação para o Programa Furado do Rio Show, que publicou. Claro que liguei para ele, tinha que provocar.
Mestre do jornalismo e apresentador do Observatório da Imprensa, Alberto Dines observa que o “diálogo do leitor com os jornais se intensificou com a universalização do telefone e, agora, com a internet:
— É claro que o leitor tem o direito de se manifestar sobre tudo, mas quem sofreu uma agressão ou teve um direito desrespeitado tem prioridade. Se você enviar muitas cartas ou quiser discorrer sobre a primavera no Afeganistão, tem que entrar na fila — afirma.
As paixões, do Mengão ao jornal, em que se viciou lendo as páginas rosas do finado “Jornal dos Sports”, comprado diariamente pelo avô, falam mais alto. Em 2008, O GLOBO publicou um anúncio dos 200 anos do Banco do Brasil, que simulava uma primeira página do jornal falando de sua importância e história. A primeira página de verdade ficou por baixo, escondida. Uma heresia que não foi perdoada. Toma-lhe carta: “O GLOBO hoje vendeu a alma”.
— Fiquei tiririca.
Casado e pai de três filhos, José Carlos é poeta e compositor. Sonha ter seus versos lidos pelo mestre Zeca Pagodinho ou Maria Gadú. O projeto é para “ontem”. Mesmo dizendo ser um “compositor sofrível”, vai soltar a voz num CD de MPB, com a banda Intervalo.
Caro editor, da próxima vez, publica o professor José Carlos!
http://oglobo.globo.com/rio/o-phd-das-cartas-nao-publicadas-4707861#ixzz1sn9HMtyO
© 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
A paulistização da televisão brasileira e a "apresentadora-celebridade"
Nos dias em que há chuvas torrenciais na cidade de São Paulo, todos os brasileiros precisam acompanhar nos noticiários "nacionais", com tempo privilegiado e análises compenetradíssimas, os engarrafamentos nas principais avenidas da pauliceia desvairada, submetendo-se a ver cenas como o carro do motorista de táxi que ficou parcialmente submerso na marginal tal e qual ou a senhora na avenida x ou y tentando, sem sucesso, atravessar para o outro lado da pista.
E se você é um dos 170 milhões de brasileiros que não mora na capital paulista, não adianta revoltar-se com o telejornal da emissora assistida naquele momento, pois todas as outras transmitem, concomitantes, a mesma odisseia, a mesma não-informação, a mesma arrogância paulistana.
O problema é que a produção televisiva brasileira resume-se hoje, pelo poder do capital, ao eixo São-Paulo-só-ela-e-mais-ninguém. É a política econômica do café-com-café. Insuportável.
A informação sobre o engarrafamento na marginal tal ou o alagamento do jardim qual não tem absolutamente nehuma importância para quem vive em Porto Alegre, Salvador, Brasília ou Manaus. Então por que as emissoras paulistanas não noticiam esses fatos "importantes" apenas em seu jornal local paulistano? Por que essa necessidade de impor à maioria do povo brasileiro essa baboseira de notícia sem nenhum valor geográfico além das marginais paulistanas alagadas?
E isso, é óbvio, não se limita ao telejornal geral. Basta ver a imposição esportiva a que todos somos submetidos nos mais variados programas de esportes. Nem falo dos canais por assinatura, pois esses deveriam ser "eSPn" ou "SPortv", pois afinal, é uma opção comprada. E compra quem quer. Refiro-me aos programas de TV aberta que se propõem (evidente que a Band é uma exceção gritante, pois até o sotaque dos comentaristas expõe seu paradigma, seu público-alvo, sua opção - é uma emissora paulista para paulistas, e só), ao menos teoricamente, a todos os brasileiros. Até aos 170 milhões que não se preocupam com os fatos exclusivamente paulistanos. E nesse período de campeonatos estaduais então, beira a demência absolutista.
Entretranto, gostaria de destacar o comentário infeliz, para dizer o mínimo, da apresentadora do telejornal Bom dia Brasil, da TV Globo no dia 21 de janeiro de 2010. Muito ciosa de seu depoimento pessoal, achando poder bem ilustrar a notícia "mui importante" de mais um alagamento paulistano, informou que ficara presa no engarrafamento e solicitara ao agente de trânsito a permissão de usar calçadas e meios outros para conseguir seguir seu caminho em direção à TV Globo, pois, afinal, era "apresentadora do jornal Bom dia São Paulo". Após ouvir aquilo, parei e fiquei a refletir:
"Claro, cara! Como você não percebeu isso antes? Afinal, ela é apresentadora do jornal global! Que importa se médicos ali também estão e precisam chegar rapidamente aos seus plantões? Ou técnicos de variadas especializações que precisam resolver problemas de algum equipamento parado, que emperra uma importante linha de produção? Ou um funcionário público qualquer que precisa despachar com urgência alguma pendência administrativa? Oras, eles não são apresentadores globais, coitados!"
Será que essa senhora se deu conta do ridículo de sua intervenção? Será que ela não se deu conta que expôs a todo o país, desnecessariamente, o ego desmesurado daqueles que se acham melhores porque são "celebridades"? Triste ainda mais foi saber que o agente de trânsito deixou-se convencer pelo discurso desse tipo de "celebridade" de fancaria. É o reflexo desse país insano, que faz de indivíduos sem nenhuma capacidade intelectual, como as personagens quixotescas dos mais variados programas dominicais de auditório ou dos intragáveis programas que acompanham o dia-a-dia de indivíduos reclusos, serem tratados como se fossem pessoas realmente importantes.
É a triste paulistização da televisão brasileira.
E se você é um dos 170 milhões de brasileiros que não mora na capital paulista, não adianta revoltar-se com o telejornal da emissora assistida naquele momento, pois todas as outras transmitem, concomitantes, a mesma odisseia, a mesma não-informação, a mesma arrogância paulistana.
O problema é que a produção televisiva brasileira resume-se hoje, pelo poder do capital, ao eixo São-Paulo-só-ela-e-mais-ninguém. É a política econômica do café-com-café. Insuportável.
A informação sobre o engarrafamento na marginal tal ou o alagamento do jardim qual não tem absolutamente nehuma importância para quem vive em Porto Alegre, Salvador, Brasília ou Manaus. Então por que as emissoras paulistanas não noticiam esses fatos "importantes" apenas em seu jornal local paulistano? Por que essa necessidade de impor à maioria do povo brasileiro essa baboseira de notícia sem nenhum valor geográfico além das marginais paulistanas alagadas?
E isso, é óbvio, não se limita ao telejornal geral. Basta ver a imposição esportiva a que todos somos submetidos nos mais variados programas de esportes. Nem falo dos canais por assinatura, pois esses deveriam ser "eSPn" ou "SPortv", pois afinal, é uma opção comprada. E compra quem quer. Refiro-me aos programas de TV aberta que se propõem (evidente que a Band é uma exceção gritante, pois até o sotaque dos comentaristas expõe seu paradigma, seu público-alvo, sua opção - é uma emissora paulista para paulistas, e só), ao menos teoricamente, a todos os brasileiros. Até aos 170 milhões que não se preocupam com os fatos exclusivamente paulistanos. E nesse período de campeonatos estaduais então, beira a demência absolutista.
Entretranto, gostaria de destacar o comentário infeliz, para dizer o mínimo, da apresentadora do telejornal Bom dia Brasil, da TV Globo no dia 21 de janeiro de 2010. Muito ciosa de seu depoimento pessoal, achando poder bem ilustrar a notícia "mui importante" de mais um alagamento paulistano, informou que ficara presa no engarrafamento e solicitara ao agente de trânsito a permissão de usar calçadas e meios outros para conseguir seguir seu caminho em direção à TV Globo, pois, afinal, era "apresentadora do jornal Bom dia São Paulo". Após ouvir aquilo, parei e fiquei a refletir:
"Claro, cara! Como você não percebeu isso antes? Afinal, ela é apresentadora do jornal global! Que importa se médicos ali também estão e precisam chegar rapidamente aos seus plantões? Ou técnicos de variadas especializações que precisam resolver problemas de algum equipamento parado, que emperra uma importante linha de produção? Ou um funcionário público qualquer que precisa despachar com urgência alguma pendência administrativa? Oras, eles não são apresentadores globais, coitados!"
Será que essa senhora se deu conta do ridículo de sua intervenção? Será que ela não se deu conta que expôs a todo o país, desnecessariamente, o ego desmesurado daqueles que se acham melhores porque são "celebridades"? Triste ainda mais foi saber que o agente de trânsito deixou-se convencer pelo discurso desse tipo de "celebridade" de fancaria. É o reflexo desse país insano, que faz de indivíduos sem nenhuma capacidade intelectual, como as personagens quixotescas dos mais variados programas dominicais de auditório ou dos intragáveis programas que acompanham o dia-a-dia de indivíduos reclusos, serem tratados como se fossem pessoas realmente importantes.
É a triste paulistização da televisão brasileira.
quinta-feira, 22 de maio de 2008
E vamos queimar livros

A queima de livros voltou na Bahia! O Folha de S.Paulo de hoje [17/05] traz uma matéria reportando uma decisão da Justiça Estadual de recolher todos os exemplares do livro Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de cura e libertação, escrito pelo monsenhor Jonas Abib, pois o voluntarioso Ministério Público da Bahia acredita que Abib teria cometido o crime de “prática e incitação de discriminação ou preconceito religioso”. Para o promotor Almiro Sena Soares Filho, o mesmo que processou a Rede Globo por mostrar escravos apanhando na novela Sinhá Moça (algo que não acontecia, de acordo com a Nova e Revisada História do Brasil de Almiro de Sena Soares Fo.), Abib faria:
"Afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto".
De acordo com a promotoria, já teriam sido vendidas 400 mil cópias do livro.
Não é a primeira vez que uma crítica a religiões afro-brasileiras sofre censura na Bahia. O livro Orixás, caboclos e guias: deuses ou demônios? de Edir Macedo também foi censurado pela Polícia do Pensamento, filial Ministério Público Federal.
Pois eu li a liminar do processo contra Jonas Abib (1957502-1/2008), o padre que está tendo um livro queimado graças a uma ação judicial. O juiz Schmitt solta uma afirmação bastante contraditória, ao dizer que
"A proteção a liberdade de consciência e de crença, bem como do livre exercício dos cultos religiosos, encontra-se alçado a nível constitucional, assim como a impossibilidade de alguém ser privado de direitos por motivo de fé ou de ideologia filosófica ou política, consoante encartado nos incisos VI e VII, do artigo 5º, da CF/88".
Como assim? Se é constitucionalmente impossível privar alguém devido a ideologia ou fé, como então o juiz manda
"O imediato recolhimento, em todas as livrarias e bancas de jornal e revistas localizadas nesta Capital, dos exemplares postos a venda da obra Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de cura e libertação, de autoria do acusado e publicada pela Editora Canção Nova".
Ora, para mim isto é impedir uma pessoa de se expressar livremente devido ao conteúdo da mensagem, que nada mais é do que a exteriorização da “fé ou de ideologia filosófica ou política”. Além disso, a liminar contém um outro absurdo:
"O perigo da demora está evidente, uma vez que a disseminação das idéias defendidas pelo acusado deve ser provisoriamente cessada, até que o mérito do caso em tela seja resolvido, como forma de evitar possíveis danos irreparáveis ao patrimônio cultural e à dignidade da pessoa humana (sic), sobretudo daqueles que tem sua matriz religiosa nas religiões atacadas pelo conteúdo do livro em debate. Ademais, o número trazido de vendagem da obra, igualmente, reclama a adoção desta medida, como forma de buscar se evitar um maior acirramento de conflitos étnico-religiosos".
“Maior acirramento de conflitos étnicos-religiosos”? Desde quando o livro estaria causando conflitos étnicos-religiosos? Aliás, desde quando uma religião tem a ver com a etnia de alguém? Salvo melhor juízo, o objetivo de qualquer religião é arregimentar o maior número possível de seres humanos, e não de pessoas humanas (sic) algo que só existe no gabinete de Schmitt, se não toda a humanidade.
Agora, comentários sobre a ação em si. Uma das características da religião é a crença em dogmas, ou seja, verdades absolutas que não podem ser contestadas e que são dadas pelo ente superior de tal religião. Um dos dogmas da Igreja Católica é a crença num único deus. Então, qualquer religião que acredite em mais de uma divindade, como é o caso das tais “religiões afro-brasileiras”, está em desacordo com a verdade absoluta em que os católicos acreditam. Além disso, é importante notar que a Igreja Católica tem outro dogma, o Extra Ecclesiam nulla salus, que diz que não há salvação fora da Igreja Católica, e uma pessoa que não pode ser salva irá para o inferno, e quem manda no inferno é o Dito Cujo.
Ora, se as religiões são baseadas em dogmas, então não há de se falar em discriminação, pois na visão da Igreja Católica, ou mesmo das tais “religiões afro-brasileiras” que o juiz não especifica quais são, qualquer outra religião está em desacordo com a verdade absoluta, assim como qualquer lei que proteja o reconhecimento de tais igrejas, pois aí o Estado estaria patrocinando um ataque ao Bem, ou seja, alinhado-se ao Mal.
Importante notar que a publicização de qualquer pensamento, por mais ofensivo que este pode ser a uma pessoa, não impede a mesma de continuar em sua fé ou ideologia. Existe uma grande diferença em se expressar e impedir alguém de professar sua fé. Desta forma, é perfeitamente legítimo ao padre Abib, ou a qualquer outro sacerdote de outras religiões, fazer críticas aos aspectos ideológicos das outras religiões, para arregimentar mais fiéis para a fé que acredita ser a portadora da verdade absoluta. O que seria bem diferente de o padre Abib estar na frente de uma porta de um local de culto de uma religião qualquer armado com um rifle M-16, ameaçando os fiéis. Aí sim, e somente aí, haveria um crime.
O que esta ação judicial quer, cuja “vítima” é o Centro Espírita Cavaleiros da Luz - Cidade da Luz (como se uma instituição tivesse consciência para poder ser ofendida) e cujo diretor não é novato no uso do Ministério Público para processar interesses católicos, é impedir um ser humano de expressar aquilo que é parte constituinte da sua consciência, impedindo-o de existir, pois uma pessoa que não pode se expressar não existe naquele mundo dos códigos onde ele está inserido.
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