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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Eu, Mateus e um bom café



Nas minhas andanças por Salvador, em busca dos melhores cafés, conheci hoje um novo local: o Café Primaz. Um lugar muito simpático e calmo e com um café gostoso, apesar das poucas opções no cardápio. Situado atrás da Igreja da Sagrada Família, conhecida como Igreja das Doroteias, no bairro do Garcia, bem próxima ao Campo Grande. É fácil de chegar e tem estacionamento farto e gratuito.

Há ainda uma pequena livraria católica que compartilha o espaço interno do Café, com obras dogmáticas e filosóficas. E como livros são uma fraqueza do meu caráter, passei logo a apreciá-los, pegando um e outro, folheando alguns e consultando os preços apresentados. No meio deles, uma obra me chamou a atenção: um livro que fazia uma leitura comentada do evangelho de Mateus.

Alguém mais incauto poderia perguntar-se: “ele lendo um texto evangélico?” Sim, claro! E por que não? Deve-se ler sobre tudo, sempre em busca do conhecimento. E mais, dentre os textos evangélicos, o texto de Mateus é o que mais aprecio, pois é o mais descritivo, histórico e humano. Sim, humano, pois é o que retrata a personagem Jesus de forma mais humana. Afora uma ou outra bobagem do texto, que se pode reputar a problemas históricos e de dominação social, facilmente identificados nas interpolações e extrapolações que se destacam no contexto da obra, o livro é interessante e apresenta um homem bom com suas angústias, desassossegos, desejos e esperanças. Um homem que duvida, que sofre, que acalenta e apascenta. Ou seja, um homem pleno, com qualidades e problemas, virtudes e vícios. Nada divino. Humano, demasiado humano.

Por isso gosto da boa nova de Mateus, que se opõe ao texto joanino, cheio de intenções e voltado a um público menos crítico, que apenas quer crer, jamais pensar. Mateus, ao contrário, suscita a reflexão sobre os temas que se seguem na trajetória jesuítica, fazendo seu leitor mais consciente do papel do homem Jesus. Costumo dizer que João prepara ovelhas; Mateus dialoga com homens.

Saboreando o cappuccino do Primaz, lembrei-me dos textos por mim escritos sobre a moral proposta em Mateus ou o a fé humana de Jesus na perspectiva sinótica, vista a partir de Mateus, claro, por ser o melhor dentre os três textos que usam a fonte Q (pode-se dizer que Mateus e Marcos são praticamente o mesmo texto, com pequenas diferenças que destacam o público alvo e o contexto cultural de sua elaboração; já Lucas representa os passos iniciais da construção mitológica cristã, cujo ápice é alcançado no texto ruim dos discípulos de João).

Pois é, um café nos fundos de uma igreja trouxe-me reflexões evangélicas. Sem nenhuma conclusão ou mesmo nova análise: não havia pretensão intelectual. Trouxe-me apenas o desejo de ler aquele texto em minhas mãos que discute o bom evangelho de Mateus. Para quem quer conhecer um pouco sobre essa figura que marca profundamente a cultura ocidental, o homem Jesus, Mateus é, sem dúvida, a melhor pedida. Entretanto, sugiro como premissa um bom anteparo histórico neotestamentário e distância de discussões dogmáticas, pois o texto de Mateus é para saborear e refletir, jamais para crer.

Café Primaz, Igreja da Sagrada Família (Doroteias)
Avenida Leovigildo Filgueiras, 270, Garcia
Salvador, Bahia

sábado, 29 de abril de 2006

A verdade que liberta

Artigo de Sergio Mauricio publicado na coluna Religião do Jornal A Tarde, Salvador, BA, em 01/08/2005 .

A mensagem cristã divulgada há cerca de dois mil anos, apesar da idade, ainda é uma novidade entre nós, ainda é um evangelho, uma boa nova. Seu conteúdo moral e espiritual foi deturpado e conspurcado pelos homens durante esse longo período de história, tornando-se um amontoado de rituais tolos, crendices sem fundamentos e hierarquias e postos sacerdotais mais preocupados com os poderes terrenos do que com a construção do reino dos céus.

O espiritismo propõe reviver a mensagem original e inovadora ensinada por Jesus, a mensagem revolucionária da renovação pessoal através da prática do amor e da caridade e da busca da compreensão da condição humana diante da vida, mensagem bem representada pela máxima ditada pelo Espírito da Verdade constante n’O Evangelho segundo o espiritismo: “Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”.

Mas, já próximo o seu sesquicentenário, o espiritismo, como todas as várias propostas de restauração do cristianismo, também sofre com a adulteração do tempo realizada pelos homens. A proposta espírita, fundamentada na moral de Jesus e ratificada pelas mensagens mediúnicas, é a do amor, da compreensão e do consolo, e esses objetivos deveriam ser alcançados, conforme os ensinos propostos pelos espíritos, através do esclarecimento, do incitamento à transformação pessoal de cada um que chega a uma casa espírita. Qualquer outra prática que não crie as condições de transformação pessoal, que não estimule o indivíduo à reflexão sobre seus valores morais e sobre suas ações na vida, é mero paliativo, é como uma distribuição de indulgências, é reviver o que de mais insensato a história humana já produziu em termos religiosos. E nós espíritas estamos fazendo isso.

Jesus ensinou que se conhecêssemos a verdade ela nos libertaria, faria de nós homens livres, e é esse o espírito do consolador, do paráclito anunciado que deverá estar conosco para sempre, é ele a compreensão da verdade, a verdade que explica e consola, pois só a bênção da verdade é consoladora. A função da casa espírita, portanto, como propulsora dos ideais cristãos, é a aspersão da verdade, pois só ela será capaz de libertar o homem que sofre, através do entendimento, da compreensão das razões profundas de sua necessidade de aprendizado nas experiências terrenas.

Muitas práticas espíritas, apesar de ostentarem o verniz da boa vontade, mais aprisionam o homem do que o libertam. Uma casa espírita que mantém, por exemplo, plantões de passes, além de grave erro doutrinário (Revista espírita, set.1865), estimula a irreflexão e a busca pelos meros analgésicos, que não são capazes de enfrentar seriamente o problema real da criatura humana. As pessoas vão em busca da solução dos seus problemas mais comezinhos, como as dificuldades financeiras, os dramas amorosos, as crises nos relacionamentos familiares, dentre outros; e a casa espírita deveria orientar, ensinar (e isso é verdadeiramente consolar), sobre a necessidade da transformação, da mudança de postura diante de problemas tão comuns à vida de todos nós que estamos nesse nível evolutivo, e não apenas aplicar passes ou fazer atendimentos de desobsessão. Ora, há espíritos em torno de nós a todo o momento, a nos acotovelar, no dizer de Kardec, e muitos querem-nos prejudicar e outros tantos ajudar-nos. Se a qualquer problema do cotidiano, a casa espírita for encaminhar o atendido a uma desobsessão, teremos que viver dentro dela, e o que é pior, numa versão moderna e espírita, cá estamos nós oferecendo as nossas indulgências. A desobsessão é remédio a ser usado com conhecimento profundo e aplicado em casos em que sua necessidade seja inconteste.


É preciso evangelizar, não apenas com palestras e cursos introdutórios de espiritismo, é preciso que o público que procura uma casa espírita –e principalmente seus condutores– tenha contato direto com leituras dos evangelhos sobre Jesus e das obras de Kardec, prática infelizmente pouco comum. As casas espíritas devem seguir o caminho da divulgação desses textos, que fundamentam o verdadeiro cristianismo, como única forma de cumprir o papel de consolador e de orientador, libertando o homem ao invés de aprisioná-lo, além de ser também o único caminho de se buscar a coerência doutrinária e a tão desejada unificação.
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