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quinta-feira, 27 de julho de 2017

A aula magistral de Angela Davis

A presença de Angela Davis na UFBA, em Salvador, no dia 25 de julho de 2017, foi uma efeméride ímpar.

Muitas reflexões profundas podem ser feitas a partir de suas provocações intelectualmente brilhantes. Mas uma frase, no meio de tantas outras, motivou essa digressão:

"Não reivindicamos ser incluídas numa sociedade profundamente racista e misógina, que prioriza o lucro em detrimento das pessoas."

Primeiro, o reconhecimento tácito de que o sistema capitalista de organização econômica e social privilegia o lucro. Mas não é apenas a assunção do privilégio do capital sobre o humano, mas em seu detrimento, contra ele. O que ela nos ensina é que entre lucro e humanização há um vácuo, uma dissensão incompatível, um vale intransponível. Ou se está dum lado, ou do outro, não há consenso possível.

Bem, Marx e Engels chamaram essa incompatibilidade de "luta de classes". E essa luta entre lucro e homem é o motor da história.

Angela então nos ensina que a realpolitik praticada pelas esquerdas "sem frescuras" (assim se autodenominam) que assumiram o poder nos últimos 15 anos só poderia mesmo dar no que deu, porque não há "Carta aos brasileiros" que sirva de ponte de travessia nesse abismo entre capital e trabalho.

Lula certamente chamaria Angela Davis de "fresca".

Segundo, a estratégia de não se incluir num sistema que intenta apenas reproduzir as relações de produção. Não, a estratégia correta é transformar o sistema, reformular as relações, revolucionar a participação.

Angela, em suas palavras tão breves em Salvador, martela profundamente nossas mentes anestesiadas pelas falsas promessas de conciliação de classes, de jogos de "ganha-ganha", tão propalados pela miséria da nossa hodierna filosofia "sem frescuras".

Ou seja, a superação dos problemas conexos da sociedade desigual, como o machismo, o racismo, a homofobia, a misoginia etc, dar-se-á pela transformação do sistema de produção, e não pela inserção dos excluídos no processador de moer carne humana a favor do lucro.

A luta não é pela possibilidade de dar às negras a oportunidade de serem também carne a ser triturada pelo lucro, mas de dar às negras o protagonismo político e social de mudar o mundo. Só isso.

E, para encerrar, lembrei-me de trecho da música "Podres poderes", do baiano Caetano:

"Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval
"

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