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segunda-feira, 9 de maio de 2016

Ainda o verbete "presidenta"

Não tardará, provavelmente, para a Presidenta da República ser inexoravelmente golpeada pelos sórdidos homens da lei, feitores e obrigadores, mancomunados com os homens divulgadores de mentiras e ideias torpes.

Mas aqui não escrevo sobre o golpe e sua triste passagem para a história como mais um momento de entorpecimento midiático do povo, e sim sobre língua. Língua falada e escrita.

Muitos se assoberbaram de razões para desqualificar a ainda atual Presidenta pela escolha, há cerca de seis anos, do vocábulo inusual para ser citada e referenciada. Articulistas e sábios vetustos riram e desdisseram dessa escolha.

Fui, já há um bom tempo, consultar um amigo, afeito aos textos deliciosos e aos contos saborosos, que prontamente veio ao meu socorro. Disse-me ele, então, num de seus momentos de beleza ímpar:

"Capítulo LXXX
De Secretário
[...]
Respirei e não tive ânimo de olhar para Virgília; senti por cima da página o olhar dela, que me pedia também a mesma coisa, e disse que sim, que iria. Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretário, era resolver as coisas de um modo administrativo .1

Disse-lhe: 'por que afinal não se tornara ele um apoio à escolha da presidenta?'

Disse-me ele, em sua astúcia singular: 'esses moços que riem e desfazem da presidenta não me leem, caro amigo, pois suas desditas não são literárias nem linguísticas, apenas rancorosas.'

Rimos juntos, e seu riso foi tão alto que o ouvi daqui, mesmo separados por mais de 130 anos."

1. Citação da obra "Memórias póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, publicada como folhetim durante o segundo semestre de 1880.
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