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terça-feira, 6 de maio de 2014

Chiquismo: a doença infantil do espiritismo

Por Randolfo*

O título é uma paródia a uma grande obra de crítica ao esquerdismo em detrimento do socialismo. E também nem guarda real proporção, pois o espiritismo não gera nenhuma doença - os espiritualistas que se dizem espíritas é que fazem isso.

Temos observado a derivação do movimento dito "espírita" no Brasil na direção contrária às recomendações da codificação e mesmo às particulares de Kardec. O espiritismo no Brasil não se orienta, na prática, pelas obras codificadoras e sim pelas obras de um único autor - Chico Xavier.

Infelizmente, esse autor não prezou pelos aspectos científicos ou filosóficos do espiritismo, preferindo enveredar por um caminho roustanguista fácil, o do religiosismo místico. E como a FEB privilegiou esse autor que tão bem serviu aos seus propósitos (vide Conscientização espirita, de Gélio Lacerda).


Nós temos um companheiro que costuma dizer que o problema não é o que se lê e sim o que se faz com o que se lê. A derivação religiosista, visando implementar uma verdadeira instituição religiosa no meio espírita, é mais fácil de ser seguida e compreendida, pois não requer maiores reflexões, tanto como também não estimula investigações, aferições. Mas, a culpa é de quem lê e não compara com a codificação, pois a codificação tem "linguagem difícil", ou é "muito complicada", nos dizeres de muitos que se dizem "espíritas".

Foi instituída, então, uma ditadura no meio espírita - o "chiquismo". É uma ditadura, pois foi massificada e assimilada pela maioria e absolutamente quase não há fóruns de debate sobre ela. Nota-se: em lugar NENHUM, seja congresso, seminário, simpósio que seja "espírita", abre-se espaço para se questionar NENHUMA obra de Chico Xavier. Muito pelo contrário - quem contesta esse autor é segregado, atacado e humilhado.

Não há como deixar de avaliar que o chiquismo possui instrumentos próprios para sua manutenção: tem base literária, coerência com seus princípios místico-religiosos e uma vasta rede de instituições, tanto como editoras e mídia que o suporta.

Conforme verificamos que o eixo de compreensão do espiritismo, segundo esse movimento, move-se exclusivamente na direção das obras de Chico Xavier e considerando o detrimento em que passa a se situar a codificação espírita, tanto quanto as claríssimas contradições existentes, eis que temos, agora, de fato, a instituição de uma religião. Mas, não se chama espiritismo, pois não se torna uma religião o que não se é.

Inaugura-se no Brasil o "chiquismo", uma religião sincrética, que por mera questão de marketing intelectual assume as feições do espiritismo, sem o ser.

Nota-se que mesmo os autores que seguem essa tendência são sempre ofuscados pela pressão desse grupo, que substituiu Roustaing (que a maioria estranhamente alega nem conhecer...) por Chico Xavier. Kardec ficou absolutamente em segundo plano.

Nota-se como no meio espírita se homenageia o citado autor, como se lhe enchem de julgamentos morais, enquanto o codificador do espiritismo jaz esquecido. Nunca é citado como exemplo moral (alguém mais notou isso?), nunca é citado como exemplo intelectual (também se notou isso?). Aliás, Kardec nunca é citado como modelo de espírita. Para os chiquistas, modelo de espírita é quem contradisse o espiritismo: Chico Xavier.

Nós, defensores do espiritismo, precisamos amadurecer e aceitar os fatos: há uma religião, ela é majoritária e o culto à personalidade é preponderante. E não se pode ignorar a comparação com os iniciantes anos do cristianismo: os ensinamentos de Jesus foram logo deturpados e ele, que não fundou religião nenhuma, viu seu nome ser utilizado para desvios absolutos, que culminaram até na perda de vidas.

E hoje Kardec é utilizado apenas de fachada para agredir-se justamente quem defende seus ideais...

A realidade impõe aos espíritas (uma classe bem mais minoritária do que imaginamos) não o combate a essa seita chiquista, mas o esclarecimento ao nosso povo.

A função do espiritismo é o esclarecimento. Nosso dever é prosseguir nisso. E como se faz? Divulgando a codificação e fazendo principalmente o que Chico Xavier nunca fez, nem tampouco seus defensores: BUSCAR A VERDADE.

Enquanto assistimos a essa nova seita afirmar que os dizeres desse autor são verdades absolutas, não assistimos à busca pela verdade, mas seremos cúmplices se ficarmos parados.

A luta pelo propriedade da expressão "espiritismo" não existe e nem pode existir. A luta pela verdade, sempre.

Queremos a verdade, queremos as obras mediúnicas submetidas à aferição, queremos a investigação dos fenômenos espirituais, queremos fazer novas perguntas para obtermos novas e verdadeiras respostas dos espíritos superiores. Queremos o espiritismo nos ESCLARECENDO e isso somente se dá por meio de informações fidedignas. O fanatismo em prol de uma única pessoa, um único espirito, um único autor, continua possuindo as mesmas características em todas as eras e momentos históricos. Quem seguia Hitler, por exemplo, o considerava infalível...

O chiquismo não precisa ser combatido. É mais uma religião e nada mais, perdida no meio de tantas outras - e a mais inexpressiva, pelo número de pessoas que a adotam. Enquanto evangélicos, que eclodiram somente a partir dos anos 60 no Brasil, hoje são metade da população do país, o chiquismo, essa doença infantil fruto da idolatria, que conta com a mesma idade, possui pífio 1% de nossa população. O chiquismo, então, só possui importância para os chiquistas - não para a imensa maioria do povo brasileiro.

Urge que façamos diferente e levemos o espiritismo verdadeiro a esse povo, carente de esclarecimento e do consolo que só vem pela verdade.

*Randolfo é moderador da comunidade "Eu sou Espírita - Espiritismo" do Orkut.

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