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quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Reflexões sobre o movimento espírita

Após retornar à boa terra, informei-me acerca dum debate no movimento espírita baiano: um renomado médium, duma das casas espíritas mais conhecidas de Salvador, resolveu realizar um casamento espírita. O fato teria passado sem maiores problemas, posto algumas casas espalhadas pelo país o realizarem também, mas o imbróglio se deu quando a justiça não reconheceu o enlace como legal, por conta de determinadas minudências jurídicas, que envolvem o fato de o espiritismo não possuir sacerdotes profissionais, impedindo sua consumação como determina a letra fria da lei.

Sem me envolver nem no fato jurídico, já que não tenho tal capacitação profissional, nem no problema doutrinário (apesar de possuir um entendimento pessoal sobre o tema), pois envolve opiniões diversas e apaixonadas (aliás, como sói acontecer com a maioria dos debates entre espíritas), detive-me no problema do tal “movimento espírita”, e refleti muito sobre ele, o que tenho feito bastante nos últimos tempos. Passei, então, a perguntar-me: quem estaria credenciado a definir o que é o certo e o errado no espiritismo? Quem seria o responsável pela correta exegese das obras kardecistas? Será que o espiritismo necessita duma organização institucional para sua realização concreta? E essa organização passaria necessariamente por um processo de unificação através de instituições unionistas habilitadas para tal? Quem as habilitaria?

Refletindo, motivado pelo debate acerca do casamento espírita, sobre esses pontos, e outros mais, passei a questionar a própria atuação da casa espírita, núcleo primacial da existência do espiritismo institucionalizado (ou o “movimento espírita”). Questionei-me se não bastaria a minha busca pela transformação moral e comportamental, abstendo-me de qualquer atividade de cunho religioso, tão afeita a posições extremadas e fundamentalistas. Algo já havia precedido essas questões: a deliberação da total independência da casa espírita em que atuo de qualquer participação no tal “movimento espírita”, não aderindo ou associando-se a UDEs, AREs, federações ou uniões. Mas e quanto à própria casa espírita, seria ela realmente necessária? Será que o objetivo deve ser a casa (ou a causa) ao invés da minha transformação pessoal? Vou além, como instituição, será que a casa espírita não dificulta meus objetivos principais ao invés de promovê-los?

Bem, são muitas as questões. E ainda não tenho as respostas. Algo sinto em mim: adoro a casa espírita em que atuo (aliás, já se vão alguns anos...), as pessoas, o trabalho, o desejo de ajudar, mas ao mesmo tempo não gosto da luta desmesurada pelo destaque, a presença insana da vaidade, a necessidade de crescer a casa mais do que o homem etc.

Sim, o “movimento espírita” parece uma luta, um clima de guerra intenso, posições contrárias e dogmáticas, religiosos X cientificistas, sincréticos X ortodoxos, Kardec X Roustaing, livros psicografados X obras kardecistas, dentre outros confrontos. Vejo-me partidário de posições, e isso me incomoda, já que me sinto sempre motivado a “lutar” pelas minhas posições, como num embate franco numa planície, em que guarnições entrincheiradas buscam conquistar um mínimo espaço do adversário, que sempre representa o “mal”.

Não quero lutar por nenhuma posição, não quero lutar pelo espiritismo, por nenhuma causa ou casa, quero apenas aproveitar o máximo possível a minha atual experiência terrena para me transformar, para sair daqui melhor do que entrei, e para isso busco seguir, nas minhas precárias possibilidades, os ensinos de Jesus e o que me propõe o espiritismo.

Cada um, cada casa, cada instituição, que busque seus caminhos, prescindindo de qualquer orientação formal, conforme aquilo que crê e deseja. Que cada um siga seus mestres, suas doutrinas e seus guias, é apenas um problema de cunho pessoal. Se um gosta de ler Zíbia, outro admira Ramatís, aqueloutro execra essas possibilidades, que possam apenas conviver em paz, mantendo suas posições e suas idéias, sem, entretanto, jamais querer definir o que é o certo e o que é o errado, pois quem estaria habilitado para tal? Quem se arvoraria a parâmetro doutrinário do espiritismo?

São apenas algumas reflexões. Ainda encontro problemas com elas. Receio a profundidade a que me levarão, ainda assim seguirei em meus mergulhos, em minhas reflexões. Preciso mudar, e essa é a minha tarefa na vida, não posso parar em lutas que só desconstroem essa possibilidade.

4 comentários:

Leticia de Paiva Rothen Sato disse...

Oi Mauricio. Questão complicada esta que vc levantou, nao? Participo de uma casa espirita aqui em Curitiba e tambem ativamente dos movimentos propostos pela Federação Espirita do PArana. Tambem canso de ver o modo como tal "movimento" está repleto de preocupações carreirísticas, vaidades, mesquinharias. Mas me pergunto, será que unidos nao temos mais força? A federação aqui, mesmo com todos os defeitos dos seus membros, tem um trabalho de alta qualidade (estetica, doutrinaria, de conteudo) já que conta com muitos colaboradores que sao profissionais qualificados que trazem sua excelência para o trabalho espírita, tirando o cunho amador e mesmo piegas de muitas produções "espíritas" (dê uma olhadinha no site e veja o que acha – www.feparana.com.br).
Pois veja, mesmo que o objetivo desta filosofia seja a transformaçao individual, ela tem que continuar existindo e deve ser divulgada (não quero dizer no sentido de proselitismo...) para que as pessoas tenham acesso a ela. E melhor que este acesso e divulgação seja feito de modo lúcido, não? Desta forma, será que a Federação, que carrega em si tantas possibilidades de desenvolvimento, não deve servir como ponto de apoio àquelas casas que não tem muito acesso a informações e reflexões aprofundadas? Digo “ponto de apoio” e não “centro diretor”, na medida em que cada casa deve continuar mantendo sua autonomia, valendo-se de tudo aquilo que considere melhor para sua propria atuação.
Na verdade, eu não tenho respostas prontas para esta questão, são apenas reflexões que tambem faço e gostaria de compartilhar. Aliás, acabei de criar meu blog para tanto: www.qualespiritismo.blogspot.com
até mais,
Leticia

Sergio Mauricio disse...

Amiga Letícia,

Você faz a seguinte indagação: "Será que unidos não temos mais força?"

Respeitando seu ponto de vista, permito-me dele discordar. Não creio que unidos sejamos mais fortes, haja vista as conseqüências que considero dramáticas advindas da união em federações ou outras instituições de caráter unionista. A idéia da união como motor para a divulgação do espiritismo faz parecer-me um partido político, ou, ainda pior, uma igreja qualquer. Ela continuará existindo e é independente dos propósitos sacerdotais pertinentes às instituições espíritas. As federações ou outras entidades seriam mais úteis, acredito, se tivessem outro modelo, bem diverso daquele proposto pela FEB e suas federadas. Mas, são apenas opiniões, e entendo que a minha opinião é inclusive uma voz dissoante no movimento espírita.

Obrigado pelos comentários.

Leticia de Paiva Rothen Sato disse...

É....entendo seu ponto de vista e vou pensar a respeito...nunca havia pensado desta forma, na verdade. Quando conheci o Espiritismo, conheci toda a estrutura já pronta, o que faz com que certas coisas sejam bastante naturais....mas creio que seja algo a se pensar.....vc tem alguma proposta já pensada de modelo alternativo para uma "federação"?

A propósito, obrigada pelos seus comentários ao artigo do meu blog....Logo respondo...

Anônimo disse...

Com vossas licenças, atribuidores de minha "invasão" na formação dessa síntese, sou um mero desconhecedor de conceitos espirutuais, mas vou me locar em outro ponto proposto a nova síntese ou proxima explicação, acredito em esclarecimento e reflexões subjacentes a crensa espirutual, refletir com os tão poucos argumentos relacionados a área, e sintetizei que nenhuma forma de espiritismo e quaisquer outra escola teológica ñ prosperará enquanto ñ respeitar a formulação de críticas e discordâncias de seus membros, é importante que haja este dualismo de ideias teologicas que desenvolvam a reflexão individual de cada ser, permitindo ao mesmo refletir sobre o rumo que cada uma de-las interferem em sua vida,sua ação sobre o mundo e reações em sua vida, onde será impossivel propondo uma unificação de conceitos como uma monopolização dos caminhos.
Acredito que da mesma forma que determinada pessoa encontra a paz espiritual em A, outra encontra em B, onde sintetizam conceitos diferentes, porém sendo propulsores adequados para cada concepção humana d perfís diferenciados, tentando assim fazer valer um terceiro grau de liberdade, com a proposta de entendimento que exista um caminho certo p\ vc e outro p\ ele, sem cometer o pecado de singularizar as praticas espirituais.
Desculpe-me a intromissão neste forúm, acredito que p\ usufluir dos benefícios da conecção, ñ posso ter receio de exprimir minha opinião e ficar de fora do processo de humanização diatópicas oferecido pela globalização.leonardo , salvador 7/05/2005

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