Nos dias em que há chuvas torrenciais na cidade de São Paulo, todos os brasileiros precisam acompanhar nos noticiários "nacionais", com tempo privilegiado e análises compenetradíssimas, os engarrafamentos nas principais avenidas da pauliceia desvairada, submetendo-se a ver cenas como o carro do motorista de táxi que ficou parcialmente submerso na marginal tal e qual ou a senhora na avenida x ou y tentando, sem sucesso, atravessar para o outro lado da pista.
E se você é um dos 170 milhões de brasileiros que não mora na capital paulista, não adianta revoltar-se com o telejornal da emissora assistida naquele momento, pois todas as outras transmitem, concomitantes, a mesma odisseia, a mesma não-informação, a mesma arrogância paulistana.
O problema é que a produção televisiva brasileira resume-se hoje, pelo poder do capital, ao eixo São-Paulo-só-ela-e-mais-ninguém. É a política econômica do café-com-café. Insuportável.
A informação sobre o engarrafamento na marginal tal ou o alagamento do jardim qual não tem absolutamente nehuma importância para quem vive em Porto Alegre, Salvador, Brasília ou Manaus. Então por que as emissoras paulistanas não noticiam esses fatos "importantes" apenas em seu jornal local paulistano? Por que essa necessidade de impor à maioria do povo brasileiro essa baboseira de notícia sem nenhum valor geográfico além das marginais paulistanas alagadas?
E isso, é óbvio, não se limita ao telejornal geral. Basta ver a imposição esportiva a que todos somos submetidos nos mais variados programas de esportes. Nem falo dos canais por assinatura, pois esses deveriam ser "eSPn" ou "SPortv", pois afinal, é uma opção comprada. E compra quem quer. Refiro-me aos programas de TV aberta que se propõem (evidente que a Band é uma exceção gritante, pois até o sotaque dos comentaristas expõe seu paradigma, seu público-alvo, sua opção - é uma emissora paulista para paulistas, e só), ao menos teoricamente, a todos os brasileiros. Até aos 170 milhões que não se preocupam com os fatos exclusivamente paulistanos. E nesse período de campeonatos estaduais então, beira a demência absolutista.
Entretranto, gostaria de destacar o comentário infeliz, para dizer o mínimo, da apresentadora do telejornal Bom dia Brasil, da TV Globo no dia 21 de janeiro de 2010. Muito ciosa de seu depoimento pessoal, achando poder bem ilustrar a notícia "mui importante" de mais um alagamento paulistano, informou que ficara presa no engarrafamento e solicitara ao agente de trânsito a permissão de usar calçadas e meios outros para conseguir seguir seu caminho em direção à TV Globo, pois, afinal, era "apresentadora do jornal Bom dia São Paulo". Após ouvir aquilo, parei e fiquei a refletir:
"Claro, cara! Como você não percebeu isso antes? Afinal, ela é apresentadora do jornal global! Que importa se médicos ali também estão e precisam chegar rapidamente aos seus plantões? Ou técnicos de variadas especializações que precisam resolver problemas de algum equipamento parado, que emperra uma importante linha de produção? Ou um funcionário público qualquer que precisa despachar com urgência alguma pendência administrativa? Oras, eles não são apresentadores globais, coitados!"
Será que essa senhora se deu conta do ridículo de sua intervenção? Será que ela não se deu conta que expôs a todo o país, desnecessariamente, o ego desmesurado daqueles que se acham melhores porque são "celebridades"? Triste ainda mais foi saber que o agente de trânsito deixou-se convencer pelo discurso desse tipo de "celebridade" de fancaria. É o reflexo desse país insano, que faz de indivíduos sem nenhuma capacidade intelectual, como as personagens quixotescas dos mais variados programas dominicais de auditório ou dos intragáveis programas que acompanham o dia-a-dia de indivíduos reclusos, serem tratados como se fossem pessoas realmente importantes.
É a triste paulistização da televisão brasileira.
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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
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