Primeiramente, devo reconhecer o valioso esforço
pessoal de alguns espíritas na consecução de determinados objetivos de
assistência e promoção sociais. A criação de obras sociais, algumas grandiosas,
que visam a auxiliar indivíduos e famílias em situação de risco social é algo a
ser enaltecido e louvado.
Esses indivíduos, e conheço alguns muito
proximamente, grosso modo, possuem
caráter exemplar e vontade carregada de energia criativa. Mas há outra
característica que gostaria de aqui destacar: o empreendedorismo. Essas pessoas,
que dedicam parte de sua vida – e alguns toda a sua vida! – a amparar, proteger
e cuidar de outras pessoas de forma voluntária, foram capazes de construir
escolas, hospitais, asilos, creches e outros instrumentos, por meio da liderança
de grupos de indivíduos para a realização dum sonho. Enxergaram um objetivo,
agregaram outras pessoas para compartilhar metas, construíram mecanismos para a
obtenção dos recursos necessários, lideraram a execução das tarefas e empenharam
muito esforço no acompanhamento dessa realização.
Mostraram, com os resultados alcançados, que, além
de indivíduos com um imenso coração, são administradores de qualidade e ótimos
gestores de projetos.
Mas, e sobre os resultados? Quantas pessoas ou
famílias são atendidas numa instituição qualquer de um desses casos de sucesso de
acolhimento social? Bem, eu conheço algumas obras grandiosas, e a quantidade de
pessoas atendidas chega à casa dos milhares. Um sucesso, se analisado apenas
pelo resultado objetivo, pois aos atendidos restou a oportunidade ofertada de mitigar
uma difícil situação social ou pessoal.
Não obstante o sucesso no atendimento a tantos
indivíduos na mais grandiosa das obras sociais que se possa citar, a quantidade
de pessoas atingidas sequer arranha o tamanho do problema social em que vivemos,
haja vista a desigualdade social extrema, a precariedade crônica no atendimento
à saúde e à educação e ao drama da renda miserável a que se submete a maioria
da população.
Posso aqui citar a frase atribuída à madre Tereza
de Calcutá:
“Por vezes
sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar
seria menor se lhe faltasse uma gota.”
Sim, seria menor, mas numa proporção insignificante
diante da imensidão do problema. O que me leva a pensar que as características
já relatadas desses indivíduos empreendedores seriam mais bem aproveitadas se
canalizadas para a busca de soluções em escala mais apropriada à dimensão do
problema. Ou seja, em vez de construir uma escola ou um hospital, gastando
esforços, capacidades e recursos valiosos, onde serão atendidas apenas poucas
pessoas, por que não construir muitas escolas e hospitais? Ou administrar melhor
os que existem? Em vez de mitigar o problema de algumas famílias, por que não os
buscar solucionar para muitas famílias?
De que falo? Ora, de política! Esses indivíduos
seriam o crème de la crème, o melhor
que se poderia esperar dum político num país tão cheio de carências sociais e
morais. Pensem num desses espíritas que construíram uma obra social grandiosa,
que atendem a um sem-número de famílias. Agora, imaginem-no prefeito de sua
cidade, governador de seu estado ou presidente desse país, propondo e executando
políticas sociais consistentes. Ou mesmo vereador, deputado ou senador, legislando
sobre os graves problemas que enfrentamos.
Teríamos então homens de caráter e coração bondoso,
com visão social aguçada e forte espírito empreendedor, lutando para superar
nossos abismos sociais e vencer nossas chagas morais. Penso que a política
seria seu local de trabalho por excelência. Afinal, são talentos. E talentos que
precisam ser direcionados para o melhor resultado.
A contradita se poderia fazer por meio da
criminalização da atividade política, como sói acontecer, jogando todos os seus
partícipes na mesma lama suja que hoje enxergamos. Mas, nesse ponto, tem-se outro
problema: a política não é uma forma de resolver as questões da sociedade, é a
única forma. E se não nos esforçarmos para mudar o perfil de nossos
representantes políticos, nossos problemas jamais serão resolvidos a contento.
Já não seria, então, a hora de olharmos a política de forma mais madura? Será
que a crise moral e política que hoje percebemos não seria capaz de mudar nossa
forma de participação? Afinal, se os políticos hoje nos envergonham, lá estão
porque foram votados não por uma entidade mágica, mas por nós eleitores.
Aqui falo para espíritas, mas o mesmo se poderia
dizer de qualquer outro segmento social com características similares: probidade
comprovada, desejo de fazer o bem e forte espírito empreendedor. E isso para
deixar claro que não apoio nenhum espírita por ser espírita, mas homens e
mulheres que se enquadrem nessas características.
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