Hoje faz 13 anos que meia dúzia de jovens (alguns nem
tanto...) abnegados e cheios de ideais foram pela primeira vez, numa noite chuvosa
de terça-feira, às ruas de Salvador para distribuir alimentos a moradores de
rua: era 28 de agosto de 2001. Com o passar dos anos, esse grupo cresceu e
muitos outros se incorporaram àquela nobre tarefa de alimentar desamparados, que
se estendeu por todas as noites das terças-feiras por longos 8 anos. Foram
momentos de muito aprendizado e crescimento. De muita doação pessoal de todos,
de muito trabalho e de muito amor no que se fazia. Entregávamos na rua sopa,
mingau, café, pão e água. E em muitos momentos acrescemos roupas, cobertores e
atendimentos médico-odontológicos, propiciados pelos amigos da área de saúde.
E a caravana de carros saía na noite de terça-feira pelas
ruas mal iluminadas de Salvador, por bairros e regiões algumas vezes perigosas,
mas sempre confiante naquilo que se propunha a realizar. Sim, corremos alguns
perigos, mas durante esses 8 anos nada aconteceu com qualquer membro da
caravana.
A quantidade de material distribuído pelas ruas
soteropolitanas cresceu e precisamos encontrar um local para organizar as
tarefas e preparar os alimentos. Assim, diante da necessidade e com a
colaboração de todos, conseguimos um local para o trabalho.
Com o conhecimento que passamos a ter das pessoas de rua,
mantivemos contatos com suas famílias e estendemos o trabalho social ainda
mais, entregando cestas básicas mensais a todas as famílias que conhecemos.
Trabalho que era feito num sábado por mês, pela manhã, na sede do grupo, que
incluía palestras de apoio social sobre saúde, higiene, direitos etc.
Os anos se passaram, e a dinâmica da vida nos levou para
lugares e tarefas distintas. É o processo normal da vida social. O trabalho, em
algum momento, teve de acabar. Conseguimos ajudar muita gente. Mas nos ajudamos
ainda mais, pois todos saímos dessa etapa de nossas vidas um pouco mais
humildes, mais autênticos e mais tolerantes com o outro.
Nesse dia de recordações doces que me vêm à memória, quero
agradecer a todos os amigos que cultivei durante esse trabalho social: vocês,
irmãos, são também responsáveis pelo que hoje sou. Aos atendidos, agradeço
profundamente a oportunidade que me deram de me conhecer melhor e de ser também
uma pessoa um pouco melhor, pois suas dor e dificuldade me fizeram compreender mais
a realidade em que vivemos.
Hoje eu queria, em agradecimento, comemorar com todos. Mas
aqui, na solidão do Planalto Central, eu apenas lembro e fico a rir sozinho
daquelas terças-feiras maravilhosas!